Nestes despretensiosos apontamentos temos evocado, por diversas vezes, personalidades que se distinguiram pelo seu trabalho, pelo seu exemplo, pelo seu eminente contributo em prol da promoção das terras beirãs.
Hoje recordamos José Miguel Carreira Amarelo (falecido em dezembro de 2000). Para além da sua reconhecida e apreciada atividade como sacerdote, Carreira Amarelo, com a sua simplicidade, com uma permanente disponibilidade e evidentes qualidades humanas, sobressaiu como docente e como homem de cultura.
Para muitos, terá então passado desapercebido; embora não se negasse à colaboração tantas vezes solicitada pelos órgãos de informação locais e regionais, declinava sempre os protagonismos mediáticos ou as luzes da ribalta, optando antes pela entrega ao trabalho quotidiano, nas várias frentes do seu labor.
No capítulo do ensino a sua presença ficou bem firmada, como podem confirmar múltiplos e insuspeitos testemunhos. Aliás, ao longo do seu percurso académico, José Miguel Amarelo deixou indeléveis marcas da sua forma de ser e outrossim do seu saber, entregando-se à descoberta constante dos valores e expoentes culturais desta região. O teatro popular foi uma das temáticas que o entusiasmou, com particular incidência nas tradições de Pousade, freguesia do concelho da Guarda. Com dois volumes editados sobre o teatro popular, procurou, como escreveu na apresentação do primeiro dos livros, «salvar do naufrágio do esquecimento e da perda uma pequena parcela da nossa cultura popular e regional».
Num rápido esboço, recordamos o seu contributo para a divulgação da obra do autor da “Balada da Neve”; através de uma oportuna edição do Museu da Guarda, anotou o livro “Augusto Gil – Cartas de Amor”, revelando parte do espólio lírico daquele poeta, até então desconhecido.
Naturalmente que não cabe nestas Anotações, nem é esse o intuito, a descrição do perfil de José Carreira Amarelo; aproveitamos para relembrar que depois de ter deixado a direção da Escola Superior de Educação (assim designada à época) do Instituto Politécnico da Guarda (que em 2013 editou um livro de homenagem a Carreira Amarelo, com o seu nome perpetuado no principal auditório daquela unidade orgânica do IPG), onde continuou a lecionar, centrava nos últimos anos da sua vida a atenção numa obra sobre “As Pastorais dos Bispos da Guarda”, a tese de doutoramento que projetava discutir, e que constitui um importante documento histórico-cultural da região, mormente sobre o período temporal escolhido.
Este trabalho não pode ser olvidado e merece a adequada e merecida divulgação, pois, para além do seu valor específico, perpetuará a memória do seu autor e será um ato de justiça perante o demorado trabalho de investigação que precedeu a sua elaboração. Na edição, anotada, das “Cartas de Amor de Augusto Gil”, José Miguel Amarelo escrevia que «com a divulgação de todas as suas cartas lucrará o leitor e a cidade da Guarda que tanto amou». A publicação do referido trabalho (“As Pastorais dos Bispos da Guarda”) destinado ao doutoramento de Carreira Amarelo beneficiaria, inquestionavelmente, esta região; a cultura e a história regional. Espera-se que venha a suscitar a merecida e devida atenção, homenageando, em simultâneo, este incansável investigador e dedicado estudioso da cultura regional.
Por: Hélder Sequeira