P – A Fundação Augusto Gil iniciou o seu percurso na área da deficiência. Em que contexto surge esta residência sénior?
R – Há vinte e tal anos, a então Associação Augusto Gil começou por dar privilégio total à área da deficiência, que ainda hoje mantemos. Temos uma residência, que funciona 24 horas sobre 24, com 30 deficientes profundos. Existe ainda creche, a partir dos 4 anos, pré-primária, um centro de estudos com outra fundação e também a valência de amas. É, portanto, uma casa já bastante grande. Quando decidimos entrar na área dos idosos foi para corresponder a alguns pedidos que nos chegaram de pessoas que não têm família ou que se sentem sós. Tivemos, durante pouco tempo, um centro de dia, que acabou, pois os utentes diziam que não os satisfazia.
P – Como foi financiada a obra?
R – Chegámos a fazer uma candidatura a um programa do Governo, mas não fomos contemplados pelo que tivemos de contrair uma dívida junto da Caixa Geral de Depósitos, de 500 mil euros. Apesar de não termos conseguido apoios, fomos para a frente com o projecto, esperando ir ao encontro dos anseios das pessoas e oferecendo-lhes uma concepção de vida que é a melhor que poderão ter enquanto forem vivos. Quisemos que a Guarda não ficasse atrás daquilo que de melhor existe no país em termos de residências seniores, como em Lisboa ou no Porto.
P – Estamos, portanto, a falar de uma residência para idosos com um nível de vida acima da média…
R- Sim. É algo que não é subsidiado pela Segurança Social. Como disse, tivemos de recorrer à banca.
P – Esta residência será uma forma de encontrar verbas para as outras valências?
R- Não escondo que é. Quando esta casa estiver a funcionar em pleno dará auxílio às valências que, forçosamente, por serem de natureza social, dão grande prejuízo. Tem de ser visto da seguinte forma: umas pessoas, as que podem, ajudam as outras, as que mais precisam. Estamos, neste caso, a falar de justiça social.
P – O que poderão encontrar os idosos nesta residência?
R – Pretende-se que seja a casa de cada um, um espaço de felicidade. Podíamos ter optado por ter mais quartos, mas não o fizemos. A lotação máxima é de 39 pessoas. A residência dispõe de biblioteca, restaurante, bar, grandes espaços de convívio nos diferentes pisos, com a possibilidade de trazerem os familiares e amigos, de terem reuniões ou refeições em privado. Vão poder ainda usufruir de ginásio, spa, massagens, aromaterapia, fisioterapia, entre outros, sendo que também existe um espaçoso salão.
P – Sendo a residência uma estrutura totalmente custeada pela fundação, em que contexto surge o ministro do Trabalho e da Solidariedade Social a inaugurá-la no passado sábado?
R – Porque se trata de uma estrutura social, criada para corresponder às necessidades das famílias. Estamos na área social e ele é o ministro da tutela. De algum modo, esta casa vai ser solidária para com as pessoas que vierem para cá e para com as suas famílias. Teremos aqui um médico e serviço de enfermagem, 24 horas por dia. Digamos que o sector público também está interessado. Esta estrutura vai ajudar a aliviar o outro sector, o das pessoas mais desfavorecidas.
P – Para quando as inscrições e a entrada em funcionamento?
R – Acabámos de abrir as inscrições e posso dizer que já tivemos muita gente a ver as instalações. Vamos tentar privilegiar pessoas da Guarda e do distrito e depois, se outras de fora da região quiserem vir, serão bem-vindas. Entrará em funcionamento logo que haja um grupo homogéneo. Podem ser cinco ou seis pessoas, não temos interesse nenhum em que venham todos de uma vez porque é uma casa e, como tal, as pessoas vão-se adaptando umas às outras, como na família. Nós estamos interessados na sua qualidade de vida.
P – Quanto custa residir nesta estrutura?
R – Uma pessoa que ocupe efectivamente as instalações pagará uns 1.300 euros mensais, mas com tudo incluído. Posso dizer que, comparativamente a outras do país, estamos a falar de metade dos valores.