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Guarda vai ter acolhimento para sem-abrigo

Projecto da Caritas para combater exclusão social está prestes a arrancar e surge depois de diagnosticados 20 casos

Sem-abrigos, passantes e pessoas em situação de exclusão social vão poder ser apoiados por um dispositivo de acolhimento temporário, associado a um gabinete que fará o devido encaminhamento psicossocial. O espaço é para permanências não superiores a uma semana e faz parte de um vasto projecto, denominado de “Subtil”, que está a ser implementado pela Caritas Diocesana da Guarda e financiado pelo Ministério da Saúde, através do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT).

Até agora foram diagnosticados 20 casos na cidade. São jovens, maioritariamente do sexo masculino, alguns com problemas associados à toxicodependência e ao alcoolismo. O perfil daqueles que poderão vir a passar pelo espaço é traçado pelo coordenador deste projecto, Tiago Cavaleiro, que explica que «estão a ser ultimados alguns pormenores» nas instalações, esperando-se a qualquer momento luz verde por parte do IDT para poder abri-lo. Entrará em funcionamento no prazo máximo de um mês. Para já, este dispositivo, que dá pelo nome de “Til”, vai arrancar com quatro camas e funcionar provisoriamente em instalações situadas na zona central da cidade, na rua Pedro Álvares Cabral. A ideia é deslocá-lo para a Estação a partir de Junho, para junto da PSP, num espaço actualmente ocupado por um ATL e que ficará vago no final do ano escolar. O número de casos foi diagnosticado num levantamento feito no ano passado pelo IDT, mas «não é propriamente preocupante, é uma realidade que deve começar desde já a ser trabalhada», diz Tiago Cavaleiro.

O “Til” abre com quatro camas porque «não há, de momento, meios para mais», acrescenta, salientando que «haverá sempre a ideia de ampliar a sua capacidade». Realça, por isso, que a Caritas vai dar prioridade a casos considerados mais urgentes.

«Pretende-se fazer o encaminhamento terapêutico ou fornecer a ferramenta ou resposta necessária a cada caso», esclarece o coordenador, ao exemplificar que «se for um problema com o alcoolismo, a pessoa será encaminhada para o CAR (Centro de Alcoólicos Recuperados) e se tiver a ver com drogas a solução passará pelo CRI (Centro de Respostas Integradas) do IDT». A estrutura vai estar equipado com casas-de-banho, cacifos, um gabinete de psicologia e de atendimento psicossocial e um espaço para um vigilante permanente. Envolverá um enfermeiro, uma técnica de animação sócio-cultural, uma técnica de serviço social e uma psicóloga.

A juntar-se a esta estrutura do “Subtil” – projecto que se insere na área da redução de riscos e dinamização de danos junto de consumidores de álcool e substâncias psicoactivas – há ainda uma unidade móvel, um Ponto de Contacto e Informação, que vai percorrer as ruas da cidade às quintas, sextas e sábados. Na prática, trata-se de uma carrinha que vai facultar informações sobre o consumo de drogas e álcool, distribuir preservativos com o intuito de minimizar gravidezes indesejadas e efectuar rastreios à taxa de alcoolémia. Nesta acção, baptizada de “Voltar”, a Caritas pretende assumir-se como intermediária entre a realidade e os vários dispositivos, entidades e instituições. «É um modo não invasivo e discreto, mas que se torna eficaz para chegar às populações, que, às vezes, são ocultas e não chegam logo aos dispositivos de tratamento», refere Tiago Cavaleiro, para quem esta será também uma boa forma de encontrar aqueles que necessitam de passar pelo “Til”.

As festividades académicas e as portas de bares e discotecas serão pontos de passagem obrigatórios da unidade móvel. O “Subtil”, orçado em 120 mil euros, tem uma duração de dois anos. Contempla ainda mais duas acções: a “Indicas”, baseada na sensibilização da comunidade, e a “Contiguo”, para pessoas em situação de exclusão social que, apesar de terem um tecto, necessitam de ajuda – ao nível da alimentação, higiene, primeiros socorros e acompanhamento psicossocial.

200 famílias estão a ser apoiadas

Actualmente, a Caritas da Guarda está a apoiar um total de 200 famílias, que pedem essencialmente alimentação e vestuário. «Há casos de situações pontuais e outros contínuos», adianta o secretário da instituição, Paulo Neves, que nota que tem havido «um aumento significativo» de pedidos de ajuda. Apesar de não dispor de dados comparativos com igual período do ano passado, o responsável refere que a Caritas passou a ser mais procurada a partir de Novembro. O desemprego, diz, aparece como a principal causa destes pedidos.

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