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«Quisemos acrescentar valor e diversidade à oferta artística do distrito e criar uma marca com personalidade»

Cara a Cara – Pedro Pereira

P – Começa hoje a sétima edição do Mêda+. O que os levou a iniciar um evento dedicado à música?

R – O Mêda+ nasceu numa altura em que não havia festivais de música de referência no interior do país e o circuito das bandas portuguesas ainda era muito restrito. Havia muito poucos concertos de novas bandas portuguesas no enorme território que vai de Castelo Branco até Bragança. O melhor festival de verão que havia na região, o Serra da Estrela, tinha tido a sua última edição em 2008 (depois teve uma edição isolada em 2011). Quisemos, em primeiro lugar, acrescentar valor e diversidade à oferta artística do distrito e criar uma marca com personalidade que pudesse ir crescendo ao longo dos anos.

P – Quais as expetativas da organização para este ano?

R – Temos a sensação que o cartaz é um dos mais fortes que já conseguimos apresentar. E, pelo “feedback” que temos recebido, estamos muito perto de ter a maior edição de sempre em termos de público. Como fazemos habitualmente de ano para ano, estamos a proceder a alguns pequenos ajustes para que a experiência de festival seja cada vez mais agradável e deixe boas memórias para todos.

P – Que géneros de música vamos poder ver nesta edição?

R – A um festival principalmente de música rock temos vindo a acrescentar alguns estilos e variações. Como destaques temos a descarga de energia dos PAUS, a eletrónica dançável dos Salto e o super-grupo Orelha Negra, que vai desde o hip-hop ao jazz, soul e funk. Para o palco CTT, no parque do centro da cidade, escolhemos seis bandas de música ligeira, maioritariamente acústica, para proporcionar tardes agradáveis a toda a população, de todas as idades. O mais importante para nós é, mais que o estilo, a pertinência. Deste cartaz quase todas as bandas lançaram ou vão lançar álbuns em 2016, o que mostra que estamos muito atentos e sempre a procurar a novidade em vez de nos encostarmos em fórmulas repetidas.

P – Quais são as principais dificuldades para organizar o festival?

R – A baixa densidade populacional dificulta bastante a captação de patrocínios porque as empresas, naturalmente, preferem investir em cidades mais populosas, a maior parte no litoral. Temos também uma rede muito deficiente de transportes públicos para a Mêda e não temos conseguido estabelecer acordos nesta área. Não existe ligação das estações de comboio mais próximas até à Mêda e os horários de autocarro são quase inexistentes. Uma viagem Lisboa-Mêda pode demorar praticamente sete horas. O festival atingiu também uma dimensão bastante considerável e começa a ser difícil conciliar as nossas obrigações profissionais com o trabalho de muitas horas diárias que o Mêda+ já exige. Mas fazêmo-lo com muito gosto e, apesar das condicionantes, continua a fazer todo o sentido para nós.

P – O festival continua a ser de entrada gratuita. Há alguma razão para isso?

R – Inicialmente, a entrada livre era uma bandeira que nos destacava dos restantes festivais, o que ajudou na nossa afirmação nacional. Até agora, com muito rigor, conseguimos apresentar bons cartazes e manter o festival sustentável de ano para ano. Estamos muito próximos da dimensão ideal e da capacidade máxima das infraestruturas que temos, pelo que, por enquanto, tencionamos manter o Mêda+ assim, acessível a todos.

P – Quais são os apoios que têm?

R – Contamos com o apoio logístico e financeiro da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia, sendo que grande parte desse apoio é reinvestido diretamente na economia do concelho (em 2015 tivemos como fornecedores 39 pequenas empresas da Mêda). É uma relação de simbiose: nós apoiamos as pequenas empresas e elas apoiam-nos a nós, é bom para todos. Na divulgação, contamos com o apoio da RTP a nível nacional e da Rádio Altitude a nível regional. Para esta edição tivemos também o apoio do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ).

P – Relativamente à população local, qual é a recetividade?

R – Nos primeiros anos sentimos alguma resistência, normal, porque o Mêda+ tem uma dinâmica completamente diferente de todas as iniciativas aqui organizadas e puxa muito por toda a gente. Mas acredito que seja, hoje, absolutamente consensual que o festival traz muitos benefícios para o concelho. As pessoas ficam orgulhosas porque o nome “Mêda” ganhou muito mais visibilidade e notoriedade com o evento.

P – Já há alguma novidade para o próximo ano? Vão continuar com a atividade?

R – Queremos organizar o festival durante muitos e muitos anos, sempre numa perspetiva de crescimento. Só vamos começar a pensar no festival de 2017 quando fecharmos efetivamente a edição deste ano, mas é certo que vamos manter a filosofia que nos trouxe até aqui.

Perfil:

Membro da organização do Mêda +

Profissão: Jornalista

Idade: 23 anos

Naturalidade: Mêda

Currículo: Licenciado em Ciências da Comunicação. Membro da organização do Mêda+ desde 2010

Livro preferido: “O Conto da Ilha Desconhecida”, José Saramago

Hobbies: Música, futebol e rádio

Pedro Pereira

Sobre o autor

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