Arquivo

«Querem que seja julgado na praça pública antes do tribunal»

Luís D’Elvas diz-se «alvo de retaliação» por parte de João e Marília Raimundo, actual responsável não comenta

A principal testemunha em dois processos-crime sobre alegadas fraudes na obtenção de subsídios que envolvem a Associação Augusto Gil, actualmente em investigação pela PJ da Guarda, diz estar a ser «alvo de retaliação» por parte de João e Marília Raimundo. Luís D’Elvas acusa o antigo e a actual presidente da direcção daquela Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) da Guarda de estarem alegadamente «a fazer tudo para que eu seja julgado na praça pública antes do tribunal», receia. A denúncia surge na semana em que o semanário “Expresso” noticiou o julgamento próximo do ex-director daquela associação por crimes de peculato, um deles na forma continuada. Uma notícia que já levou o arguido a suspender o mandato de deputado, eleito pelo PSD, na Assembleia Municipal de Belmonte e a presidência da concelhia social-democrata de Belmonte.

Em causa estão a apropriação e o uso ilegítimo de bens da Associação de Beneficência Augusto Gil, entre 1998 e 2000, quando o arguido era director de serviços. O despacho de pronúncia do Tribunal da Guarda, a que “O Interior” teve acesso, acusa o arguido de apropriação de bens destinados à alimentação dos deficientes a cargo da instituição, num valor superior a 89 euros. Arroz, azeite, massas, pudins, queijos e outros produtos terão sido transportados indevidamente para a sua residência, numa viatura da associação. Luís d’Elvas é ainda pronunciado por ter supostamente entregue dois computadores propriedade da Augusto Gil para abater no valor da compra de um portátil para uso pessoal (orçado em cerca de 980 euros). O julgamento deverá ocorrer no próximo dia 23 ou 30. O visado refuta as acusações de que é alvo e garante que as mesmas terão ficado «cabalmente» desmentidas em debate instrutório. Segundo fonte conhecedora do processo, uma ex-funcionária da instituição, despedida e reintegrada na associação após recurso aos tribunais, que esteve à frente do sector da alimentação e fazia as respectivas encomendas, terá testemunhado que «tudo o que era comprado e depois cozinhado era integralmente conferido» por si própria e pela cozinheira.

Quanto à troca de computadores, ela terá supostamente sido negada pelo antigo director comercial da empresa de material informático de que era cliente a Associação Augusto Gil. Em contrapartida, aquele responsável disse alegadamente que o dito computador terá ficado para João Raimundo. Luís D’Elvas foi ainda investigado por suspeita de abusos sexuais a uma deficiente mental profunda, utente da associação, com base em denúncias de duas funcionárias. Situação que refuta, sustentando que uma posterior investigação da Polícia Judiciária concluiu que a alegada vítima não foi violada, o que levou Luís D’Elvas a apresentar queixa por denúncia caluniosa contra as duas funcionárias, o antigo e a actual presidente da associação, tendo já sido os quatro alegadamente constituídos arguidos. Luís D’Elvas, que é representado por Júlio Santos, defende-se dizendo que também aqui «as provas da minha inocência são inequívocas». Na sua opinião, estas acusações inserem-se numa alegada «estratégia de perseguição e difamação» levada supostamente a cabo por João e Marília Raimundo depois de ter deixado a Augusto Gil em 2001.

«É estranho que as queixas só tenham surgido em 2003 e se reportem a factos alegadamente ocorridos em 1999», refere, desconfiando que tudo se fique a dever aos seus depoimentos em dois processos-crime sobre alegadas fraudes na obtenção de subsídios. A matéria ainda está a ser investigada, mas um dos casos diz respeito a alegadas irregularidades na aplicação de um subsídio de cerca de 100 mil euros no jornal “Nova Guarda” para compra de equipamento. “O Interior” contactou Marília Raimundo, mas a actual responsável pela instituição recusou-se a comentar as acusações de Luís D’Elvas.

Luis Martins

Sobre o autor

Leave a Reply