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Quase 200 dias depois

Quase 200 dias depois do seu início, a novela Sócrates está para lavar e durar. O mais interessante não é se o ex-primeiro-ministro aceita ir para casa com pulseira eletrónica ou se a decisão do Ministério Público de propor a suavização das medidas de coação foi tomada com a concordância do juiz Carlos Alexandre e do procurador Rosário Teixeira. O clímax vai ser conhecer a acusação que o Ministério Público vai formular contra Sócrates – e quais as insustentáveis provas que demonstram que atuou de forma corrupta enquanto esteve em São Bento.

Há uma coisa inquestionável: não é normal uma pessoa com o estatuto de Sócrates receber com regularidade dinheiro vivo da parte de um amigo, mesmo que seja o maior amigo, num montante que, segundo o Ministério Público poderá ter atingido 1,5 milhões de euros. Mas daí a concluir-se que Carlos Santos Silva, o amigo de Sócrates, é um mero testa de ferro e que os 23 milhões que ele regularizou ao abrigo de um programa fiscal nesse sentido são do próprio Sócrates ainda vai um passo de gigante. Mais: a eventual acusação é de que os 23 milhões de euros são não só de Sócrates, como resultaram de decisões tomadas enquanto primeiro-ministro, que beneficiaram o Grupo Lena.

É por isso que o facto de a investigação já ter passado por dez países, de as autoridades suíças terem colaborado com a justiça portuguesa enviando todos os movimentos das contas de Santos Silva, de agora haver notícias de que está a ser investigado o empreendimento de luxo de Vale do Lobo mas até agora não ter sido deduzida a acusação deixam a sensação de que o procurador Rosário Teixeira está realmente às voltas perante uma investigação de grande complexidade, que não lhe permitiu ainda formular uma acusação sólida e sustentada da suspeita de corrupção por ato ilícito. E a sensação adensa-se quando, a crer no Diário de Notícias, Rosário Teixeira não concretizou o facto que imputa a Sócrates e que sustenta a tal suspeita de corrupção por ato ilícito quando era primeiro-ministro.

Esperemos, portanto, que quando a novela chegar ao fim, a acusação seja fortíssima e assente em provas inquestionáveis. Porque se no final disto tudo, Sócrates for condenado por corrupção sem provas mas apenas pela convicção dos juízes, então estaremos perante um grande desafio à Justiça e ao Ministério Público: o desafio da credibilidade. Sobretudo porque este caso não pode ser esclarecido sem dúvidas com base em ditados populares, como “quem cabritos vende e cabras não tem de algum lado lhe vem”.

Por: Nicolau Santos

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