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Poucos lares para muitos idosos

Encontrar um lar com vagas disponíveis na região pode ser uma verdadeira “dor de cabeça”

A Guarda é um dos distritos que apresenta maior índice de envelhecimento demográfico. Ainda assim, encontrar um lar com vagas disponíveis para acolher um idoso pode tornar-se numa verdadeira “dor de cabeça”.

No distrito, segundo dados fornecidos pela Segurança Social, existem 99 lares de idosos. Destes, 88 são geridos por Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e 11 pertencem a entidades privadas. A rede lucrativa tem capacidade para acolher 323 idosos, ao passo que a rede solidária (lares públicos) é frequentada por mais de 3.200 utentes. «Isto significa que há resposta para mais de oito por cento da população idosa», refere Rita Cunha Mendes, do Centro Distrital da Segurança Social, acrescentando que se trata de uma cobertura que supera em larga medida a média nacional, «que se situa abaixo dos quatro por cento», indica. Contudo, a responsável admite que «haverá alguma dificuldade em conseguir uma vaga, já que na rede pública os lares estão sempre praticamente lotados», refere. No que diz respeito a listas de espera, «desconhece-se o número real de idosos que aguardam admissão». Isto porque se constata, «com elevada frequência», que muitos deles esperam por vaga em vários lares ao mesmo tempo.

No que toca a preços, «existe liberdade de fixação de montantes nos lares privados». Já nos públicos, o valor a pagar pelo utente «é condicionado pelo estabelecimento das regras de comparticipação familiar, determinada pela aplicação de uma percentagem máxima (70 ou 80 por cento no caso de idosos acamados) sobre o rendimento per capita do agregado familiar ou do idoso, desde que o valor apurado não ultrapasse o custo real por utente, verificado no lar que este frequenta», adianta.

Oito novos lares em 2007

Só no ano passado abriram no distrito oito novos lares e «há muito que não é sinalizado qualquer encerramento», refere Rita Cunha Mendes. Entretanto, estão em construção 12 novos equipamentos destinados a esta valência, sete dos quais são da responsabilidade de IPSS e cinco de iniciativa privada, com capacidade para mais 282 idosos, que deverão começar a funcionar entre o final deste ano e o primeiro semestre de 2009. De resto, o distrito da Guarda conta ainda com 10 centros de noite públicos, que poderão converter-se em lares no decurso deste ano, alargando-se a resposta para mais 130 pessoas. Rita Cunha Mendes revela ainda que estão em fase de análise «14 novos projectos, a maioria de IPSS, que poderão vir a acrescentar mais 200 vagas nos próximos dois anos», sublinha.

O Lar do Mondego, onde não há lista de espera, é a excepção que confirma a regra. Sofia Laginhas, directora da instituição, atribui o facto «aos preços praticados, um pouco acima da média, o que condiciona a procura». Contudo, a instituição, sedeada no Porto da Carne, até tem vagas disponíveis. «Temos capacidade para receber 39 idosos e actualmente apenas acolhemos 21», afirma. Os preços praticados na instituição situam-se entre os 700 e os 950 euros, podendo ser mais elevados consoante «a situação de cada idoso», explica a directora, para quem não há falta de lares: «O que está em causa não é o número de lares, mas sim a comparticipação do Estado, que não deveria ser dado às instituições, mas aos idosos, para que estes pudessem procurar espaços de qualidade e condignos», defende. Onde também não existe lista de espera é no Lar de Santa Catarina, no Reboleiro, concelho de Trancoso. «Mas estamos lotados», assegura Sílvia Nascimento, psicóloga da instituição, que tem capacidade para acolher perto de uma centena de idosos.

«As épocas em que se regista maior procura são o Natal e o Verão, sobretudo devido ao regresso dos emigrantes e que procuram soluções para familiares próximos», aponta. A lista de espera «é variável», mas o lar consegue sempre dar uma resposta «mais ou menos rápida» a quem o procura. «Ainda há três semanas abriram duas vagas, mas foram de imediato preenchidas», exemplifica. O lar dos Fóios, no Sabugal, também está lotado. A IPSS tem capacidade para 45 utentes e, segundo a responsável Cristina Ornelas, a lista de espera tem «30 inscrições». Aqui, os preços situam-se entre os 200 e os 320 euros. «Na zona da raia praticamente todas as aldeias têm instituições, mas mesmo assim há uma enorme procura», adianta. «Talvez existam até muitos lares, a questão é que as pessoas precisam destas instituições para “ontem” e só recorrem quando o idoso já está no hospital ou não tem condições para ficar só», sublinha. De resto, no ano passado, o lar dos Fóios apenas abriu cinco vagas.

A poucos quilómetros de distância, o Lar de Santo Antão, em Aldeia do Bispo, com capacidade para receber 60 utentes, está lotado e tem uma lista de espera «da ordem dos 25 idosos», conta Helena Manso, elemento da direcção da instituição. A responsável assegura que o role de candidatos só não é maior «porque não aceitamos mais inscrições». Os preços ali praticados variam entre os 160 e os 400 euros. «No concelho do Sabugal existem muitos lares, mas mesmo assim a procura é grande, porque a população está cada vez mais envelhecida. Na nossa instituição temos cerca de 10 idosos com mais de 90 anos», refere.

Números

• Quatro mil idosos usufruíram, em 2007, do Serviço de Apoio Domiciliário;

• 1.900 frequentaram Centros de Dia;

• 20 por cento da população idosa do distrito está a ser apoiada pela Segurança Social;

• 289 casas de idosos carenciados serão requalificadas no âmbito do Programa de Conforto Habitacional para Pessoas Idosas;

• 3200 idosos frequentam lares públicos;

• 2631 são ajudados através de acordos de cooperação entre a Segurança Social e as IPSS;

• 323 vagas é a capacidade dos lares privados do distrito;

• Dez milhões de euros foram canalizados, no ano passado, para as 88 IPSS do distrito;

• 330,25 euros foi o montante da comparticipação mensal por utente pago pela Segurança Social em 2007.

Rosa Ramos

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