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«Portugal está tão falido como a Grécia»

Garante antigo ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis.

O antigo ministro das finanças grego defende que o peso da dívida pública e privada em Portugal é tão insustentável como na Grécia. Em entrevista ao jornal “Público”, Yanis Varoufakis considera que não há motivos para otimismo.

«Em Portugal, pode haver quem celebre a recuperação. Mas não há uma recuperação em Portugal. É inimaginável caracterizar aquilo que acontece no último ano e meio em Portugal como uma recuperação. A dívida portuguesa agregada, pública e privada, é insustentável. Por isso, Portugal está tão falido como a Grécia. Na Grécia temos mais dívida pública do que privada. Em Portugal é o inverso. Mas os dois países estão presos a um equilíbrio de taxas de juro e inflação muito baixas que torna o crescimento real que é preciso para sairmos da crise totalmente impossível, a não ser que a Europa mude substancialmente», afirma.

O controverso ex-ministro das Finanças grego que vai estar amanhã em Coimbra a convite do Centro de Estudos Sociais (CES), para uma palestra intitulada Democratização da zona euro, acrescenta na mesma entrevista que «a Grécia e Portugal são muito semelhantes em muitas coisas importantes e bastante diferentes noutras».

«Os irlandeses dizem que não são como os portugueses, os portugueses dizem que não são como os gregos, os franceses dizem que não são nada como os espanhóis, os alemães dizem que não são nada como os franceses. Isto é um reflexo claro da fragmentação por que a Europa está a passar. A verdade é que fomos todos apanhados na mesma crise. A Grécia e Portugal são muito semelhantes em muitas coisas importantes e bastante diferentes noutras. Mas a semelhança em que Portugal precisa de se concentrar é que ambos as economias foram apanhadas numa armadilha de deflação e dívida da qual não conseguimos sair, simplesmente por via de uma melhor governação ao nível do Estado», lê-se na entrevista publicada esta manhã no “Público”.

Varoufakis diz que nada mudou em Atenas depois de meses de discussão com as instâncias europeias. E afirma que, na prática, não existiram negociações já que do lado da troika, diz, não havia interesse em negociar. O ex-ministro admite que se arrepende de ter aceite o acordo com o “troika”: «Aquilo que me arrependo é de ter aceite esse acordo». E, numa entrevista sempre marcada por fortes criticas aos responsáveis europeus, diz que o seu «grande erro foi imaginar que esta era uma negociação honesta e genuína». «Nunca foi isso», lamenta.

Varoufakis diz que atribui responsabilidades pelo “falhanço” do Syriza à falta de democracia na Europa. «O que correu mal é que a Europa não é democrática. Nunca nos foi dada a oportunidade de explicar as nossas propostas à opinião pública europeia. E mesmo os ministros das Finanças da zona euro não foram totalmente e adequadamente informados sobre o que estávamos a propor. As negociações aconteciam à porta fechada, entre nós e a “troika”. Os ministros das Finanças nunca recebiam os documentos que continham as nossas propostas, nem olhavam sequer para as exigências da “troika”».

Neste contexto, o ex-ministro defende que os cidadãos se devem juntar num movimento pan-europeu para dizer não à forma como a União Europeia está a ser governada.

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