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Poder e democracia

Menos que Zero

Desde que regressei a este espaço, há três semanas, o assunto abordado tem sido a actuação da Câmara Municipal da Covilhã. Gostaria de sublinhar que estas crónicas não têm qualquer objectivo político-partidário, e que nada de pessoal me move contra o actual executivo camarário, pelo que se trata de uma mera coincidência.

Entre os actuais vereadores estão pessoas por quem tenho elevada consideração, e outras a quem não reconheço qualquer mérito ou qualidade dignos de saliência. Uns e outros foram legitimados pelo voto maioritário dos covilhanenses, o que para mim os coloca em igualdade de circunstâncias. Eles e eu sabemos que, acima da amizade e em paralelo com a legitimação popular, está a liberdade de opinião. Eu, cidadão comum, tenho direito ao exercício da crítica, tal como eles, os eleitos, têm o dever de a aceitar. É um sistema muito simples que funciona na perfeição desde que todos respeitem as regras da democracia. Mas é isto que algumas pessoas do actual executivo camarário não querem entender. O facto de alguém ser eleito não significa que estará quatro anos a salvo das críticas. Mais. A crítica deve ser vista como um indicador valioso, já que a existência de uma maioria acaba por transportar o executivo para um patamar de autoconfiança que o afasta dos problemas mais simples da população.

Habitualmente, a fiscalização das actividades camarárias é desenvolvida pela oposição, coisa que não se verifica na Covilhã. O único vereador do PS bem tenta desenvolver um trabalho de fundo, mas para isso teria de contar com o apoio do seu partido. Miguel Nascimento lembra-me aqueles forcados que avançam destemidamente para o touro, mas acabam por ser esmagados contra as tábuas da trincheira, porque quando olham para trás, as ajudas não estão lá.

Resta um espaço de livre opinião, a comunicação social, mas a Câmara resolveu apontar as baterias a alguns desses órgãos. E é pena, porque Carlos Pinto não precisa de actuar desta forma pouco democrática. Já aqui escrevi que o actual presidente da Câmara tem uma visão política muito acima da média. É, certamente, o autarca mais perspicaz entre todos os que passaram pela Câmara da Covilhã, e um dos melhores da região. Porém, estas qualidades acabam ofuscadas pela sua forma de actuação na Câmara.

A política é muito mais do que obras. É também o relacionamento com os eleitores, com os colaboradores e com a imprensa. Infelizmente para Carlos Pinto, não sou apenas eu a dar-me conta desta estranha forma de estar na política pois, caso contrário, o autarca já teria sido chamado para um cargo governamental. Custa assistir ao exercício de autodestruição de um autarca que poderia ficar na história da Covilhã pela obra realizada, mas vai acabar por ser apenas recordado pela forma pouco democrática como se relacionou com a opinião pública do concelho.

Por: João Canavilhas

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