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PLIE “debaixo de fogo” da oposição na Assembleia Municipal da Guarda

Bloco de Esquerda e PSD duvidam que acionistas subscrevam aumento do capital social da sociedade numa altura de crise económica

Debaixo de bastantes críticas da oposição, a Assembleia Municipal da Guarda aprovou na última sexta-feira a proposta da autarquia sobre o aumento de capital para cobertura de prejuízos da PLIE – Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial. No período de antes da ordem do dia foram aprovadas moções a favor da manutenção da Maternidade, a exigir que o troço ferroviário entre a Guarda e a Covilhã seja concluído e onde é pedida uma descriminação positiva para que o Instituto Politécnico possa vir a ter mais alunos.

No ponto sobre a PLIE, o presidente da Câmara relembrou que «já tentámos várias vezes que houvesse aumento do capital mas não tem havido sucesso», sustentando que a autarquia «não quer liderar a PLIE com a maioria do capital porque se assim o fizesse deixava de ser uma sociedade anónima para ser uma sociedade municipal». Joaquim Valente explicou que «como houve um prejuízo no ano anterior, a legislação obriga à redução para capital zero»: «Pensamos de alguma forma blindar o acordo parassocial para que possam vir outros acionistas à sociedade. Queremos consolidar a empresa de forma a que possa trabalhar para que a gestão do equipamento seja de iniciativa privada», realçou. O edil reforçou que desta forma se conseguem «cobrir os prejuízos da sociedade e fazer o aumento até 1,5 milhões de euros». Justificações que não convenceram os deputados da oposição. Jorge Noutel, do Bloco de Esquerda, foi dos mais contundentes e considerou que o autarca da Guarda já não acredita na PLIE: «Quem o ouviu neste ponto sentiu que não teve convicção, a forte convicção que eu já ouvi noutros pontos. É que, de facto, não acredita no projeto. Já foi a âncora de desenvolvimento para esta região mas é um elefante branco que está ali», sustentou. O representante do BE defendeu que Valente «bem tenta salvar a situação, só que não há salvação possível neste momento», questionando como é que o autarca «pode querer fazer crer às pessoas que com a grave crise económica que se vive existe alguém que queira jogar na bolsa ou na roleta? Algum investidor neste momento vai querer partir para essa jogada?», completou. Quanto a Aires Diniz, da CDU, falou em «medidas de saneamento financeiro da PLIE», acusando a Câmara de que «nem sequer parece ter uma visão clara do que acontece e que prejudica a execução deste programa de desenvolvimento».

Valente garante empenho pessoal no caso das dívidas das Juntas

Da bancada do PSD, Pedro Nobre foi o rosto da crítica ao considerar que a PLIE «poderia ser um caso de estudo para se saber o que não deve ser feito». Reiterou a «importância do projeto» mas criticou uma sociedade que «ao certo ninguém parece saber se, ou como, funciona». «Porém, já é sabido que o prejuízo em dezembro de 2010 ia em 58.174 euros. É obra!», recordando que o aumento do capital social já foi chumbado em 2008, daí que duvide que a resposta vá ser diferente «em plena crise». Ainda assim, o PSD votou favoravelmente por considerar o tema «extremamente grave para a nossa cidade».

Confrontado com as críticas, o autarca assegurou que continua «a acreditar no projeto e acreditamos todos. O melhor exemplo está lá. Estão lá 12 empresas a trabalhar, criam postos de trabalho e geram riqueza ou podemos ignorar isso?», frisou. Sustentou que «o tempo das grandes empresas de centenas e milhares de trabalhadores acabou» e garantiu que o projeto «tem pernas para andar»: «Ou vai para a frente com a estrutura acionista atual ou isto não pára e nós assumimos essa liderança. Ainda nenhuma empresa ficou por se instalar por causa disso porque assumimos essa liderança. Queremos os privados connosco mas também os queremos testar. O sector público tem os mesmos direitos que os privados e cada um defende os seus interesses e esta proposta vai permitir-nos que possamos agilizar nas duas vertentes», refutou.

Antes da ordem do dia, o presidente da Junta de Freguesia de S. Miguel, questionou o edil sobre o caso das alegadas ameaças que algumas juntas do concelho estarão a ser alvo por parte de empreiteiros devido a incumprimento dos pagamentos. João Prata perguntou o que é que a Câmara pensa fazer «do ponto de vista político e ético-moral se alguma Junta for incomodada em termos judiciais pelos empreiteiros». Na resposta, o autarca assegurou que «há muito tempo» que reúne com os «empreiteiros e os prestadores de serviços no sentido de podermos regularizar a nossa dívida para com eles e sendo conseguida esta situação possamos despenalizar as ações que os empreiteiros tenham com as Juntas de Freguesia». De resto, assegurou que «assumirei pessoalmente estas iniciativas no sentido de salvaguardar todas as Juntas de Freguesia».

Deputado do PSD quer redução de vagas em cursos dos grandes centros

«Basta uma redução de 10 por cento das vagas no Porto e Lisboa para que os Institutos Politécnicos do interior aumentem de forma significativa o seu número de alunos. Para o litoral não constituiria grande perda, para o interior poderia significar a sobrevivência». Preocupado com o «cada vez menos número de candidatos» que o IPG tem tido, Pedro Nobre, deputado do PSD, apresentou uma moção, onde delibera reivindicar ao Ministro da Educação a «tomada de medidas que potenciem um desenvolvimento mais equilibrado do país, nomeadamente ao nível da oferta de cursos e quantidade de vagas que não prejudiquem as instituições do interior do país e que garantam a sua sustentabilidade futura». Neste sentido, sugere a «redução do número de vagas oferecidas em alguns cursos nos grandes centros urbanos, de forma a que a capacidade instalada nas instituições do interior possa ser adequadamente rentabilizada». Apesar das críticas feitas pelo líder da bancada do PS, Nuno Almeida, a proposta foi aprovada com bastantes votos de deputados socialistas.

Também do PS, Pedro Guerra apresentou uma moção onde considera que «qualquer tentativa de encerramento da nossa maternidade» será um «ato injusto, atroz, iníquo, desadequado e ridículo», assegurando que os cidadãos da Guarda «não tolerarão nunca tal situação». Do mesmo modo, defendeu que a moção serve para «avisar para que não tenhamos nunca de tomar outra decisão para exigir uma qualquer revogação, em nome do povo e nessa altura certamente com o povo nas ruas». Outra das moções aprovadas foi apresentada por Jorge Noutel, do BE, e exige que «o troço ferroviário da Guarda à Covilhã seja em definitivo terminado» e que enquanto não for reaberto, que a CP «continue a manter o serviço rodoviário alternativo».

Ricardo Cordeiro Joaquim Valente defende que o projeto da PLIE «tem pernas para andar»

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