Ingrid Bergman, caso estivesse fisicamente viva (porque morta ela nunca estará), comemoraria, em 2015, um século de vida. Não poderia ignorar esta data, pois seria um sacrilégio. Afinal, Ingrid provou, antes de Marilyn Monroe, que não são só as luzes solar e artificial que iluminam. Ingrid é dotada de uma luz interior que facilmente transparece no seu olhar, envolvendo-a numa auréola de perfeição. Ingrid, sueca de nascença, não veio de um país soalheiro, mas talvez ela não precisasse de luz quente exterior. Afinal, o seu rosto tem luz própria, e a câmara bem a captou em filmes como “Casablanca” (Curtiz, 1942).
A atriz veio para Hollywood no final dos anos 30 pela mão do produtor David O. Selznick, que, encantado com sua beleza natural, contrária ao glamour fabricado por Hollywood, decidiu deixar a sua aparência original.
Ingrid, a estrela, possui, por um lado, tal como a sua conterrânea Greta Garbo, uma aura misteriosa e, por outro, um lado terreno, de proximidade. Todavia, a diva tem, acima de tudo, uma serenidade melancólica.
Como grande masoquista do cinema, Ingrid deu vida a mulheres atormentadas por homens em filmes como “Gaslight” (Cukor, 1944), que lhe rendeu o primeiro óscar de melhor atriz principal, e “Notorious” (Hitchcock, 1946). No entanto, o seu papel mais conhecido, e que ela pouco valorizava, foi o de Ilsa Lund em “Casablanca”.
Em 1949, Ingrid renunciou à sua carreira na “Fábrica de Sonhos” e deixou a sua família para ceder ao seu amor por Roberto Rossellini. Apesar da mágoa deixada em terras norte-americanas, a sueca conheceu o seu perdão quando, já divorciada do realizador italiano, recebeu o seu segundo óscar de melhor atriz principal pelo seu papel em “Anastasia” (Litvak, 1956).
Considerada talentosa e bonita, um cocktail raro em Hollywood, a atriz disse uma vez que «atuar é o melhor remédio do mundo – se tu não te estás a sentir bem, isso passa, porque estás ocupado a pensar em algo que não és tu mesmo». Devo acrescentar que vê-la atuar é igualmente um remédio miraculoso.
Ingrid deixou para a posteridade obras-primas que podemos ver e rever. Com o DVD, basta dizer “Play it again, Ingrid” e lá vem ela, sedutora e vulnerável como sempre.
Miguel Moreira