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Pior dia do ano causa prejuízos avultados na região

No distrito da Guarda, fogos nos concelhos de Seia, Fornos de Algodres e Gouveia sofreram prejuízos incalculáveis

O dia 15 de outubro ficará para a história como o pior do ano a nível de incêndios e os prejuízos confirmam a dimensão da tragédia. As chamas entraram sem pedir licença em vários concelhos do distrito da Guarda e cobriram a paisagem com um manto negro. Fornos de Algodres, Seia e Gouveia foram três dos municípios que viveram dias de terror e que agora tentam reeguer-se das cinzas.

O fogo passeou-se por onde quis no concelho de Fornos de Algodres, onde arderam cerca de 1.550 hectares, distribuídos pelas freguesias de Queiriz, Maceira, Cortiçô, Algodres e Sobral Pichorro. Desde pinhal a pastos, passando por árvores de fruto, oliveiras e plantações, as chamas causaram danos incalculáveis. O presidente da autarquia diz não se recordar de um incêndio tão grande no concelho e se Fornos de Algodres vivia dias difíceis devido à seca, o cenário é agora ainda mais preocupante. «Não há registo de animais que morreram, por influência direta ou indireta», garante Manuel Fonseca, adiantando que a autarquia, em colaboração com a ANCOSE – Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela, «está a assegurar a distribuição de alimentos, como feno e ração». Mas isso não evitará a quebra na produção do queijo Serra da Estrela: «Sabemos que este será um ano muito complicado», admita o edil, sublinhando que ainda assim é importante «salvaguardar os animais».

A “culpa até pode morrer solteira”, mas o autarca não esquece que é importante pensar no reordenamento florestal. «Para evitar estas situações temos que nos reorganizar em termos de floresta e isso tem que ser feito rapidamente», considera Manuel Fonseca, para quem é necessário «criar soluções relativamente à forma como plantamos as nossas florestas, estudar o tipo de florestas que temos e a forma como as organizamos». Até lá são precisas medidas imediatas. Com as terras resumidas a pó, as primeiras chuvas podem tornar-se um grande problema: «Relativamente à questão do mato e pinhal ardido é importante haver um trabalho, que tem que ser feito rapidamente, para não corrermos o risco de ter problemas», alerta Manuel Fonseca, aludindo a possíveis desabamentos e à contaminação da água dos rios e riachos.

Câmara de Seia preocupada com os pequenos agricultores

O concelho de Seia esteve cercado por três incêndios que deflagraram em Casas Figueiras, Sandomil e Sabugueiro. A 15 e 16 de outubro as chamas tomaram proporções incontroláveis e foi necessário ativar o Plano Municipal de Emergência.

A ajuda vinda dos céus – a chuva – tardou em chegar e quando apareceu as chamas, atiçadas pelo vento, já tinham vagueado por todas as direções. Até ao momento, foram contabilizadas 41 casas de primeira habitação ardidas que, segundo o presidente da Câmara, «necessitarão de intervenção no todo ou em parte». Em termos empresariais, Carlos Filipe Camelo avança com um prejuízo já apurado da ordem dos 3,8 milhões de euros. O fogo também levou consigo mato, floresta e terrenos agrícolas, bem como infraestruturas. De acordo com o edil, «só em vias temos valores na ordem dos 2 milhões de euros, a que somamos mais cerca de 1,6 milhões de euros».

A grande preocupação do município neste momento são os pequenos agricultores, que praticam uma agricultura complementar ou residual. «Falo daqueles que tendem a complementar os baixos rendimentos que têm numa profissão, que não a de agricultor, e que viam aqui uma maneira de procurar um aconchego para as suas vidas», lamenta Carlos Filipe Camelo. O presidente senense adianta que os produtores agrícolas «vêm as coisas um bocado mal paradas para o seu lado» e avisa que se não houver «algum cuidado com estas pessoas, serão cada vez menos aqueles que estão na agricultura e cada vez mais aqueles que são convidados a sair do nosso território em busca de conforto para si e para as suas famílias».

Sem adiantar números, o autarca avançou a O INTERIOR que os prejuízos na vertente agrícola serão da ordem de «uns milhões» de euros. «O incêndio destruiu tudo onde passou. Desde vinhas a pomares, foi uma desgraça completa», reforçou o edil, que espera apenas que as palavras se convertam em atos: «É importante que haja um aceleramento no que diz respeito à relação com as pessoas porque de palavras elas estão fartas, precisam é de ações», sublinhou Carlos Filipe Camelo. No concelho de Seia registaram-se ainda duas vítimas mortais. Um casal faleceu na freguesia de Vide quando tentava defender os seus bens. O INTERIOR tentou, diversas vezes, contactar o presidente da Câmara de Gouveia, mas não obteve qualquer resposta de Luís Tadeu.

Sara Guterres Além de consumir mato, floresta e terrenos agrícolas, o fogo causou a morte a duas pessoas em Vide (Seia)

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