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Perto… tão perto

Entrementes

Sentado frente ao teclado, olho e, lá fora, continua a cair um dilúvio de proporções bíblicas. O que ainda há pouco não passava de uma ribeira, pouco mais que um fio de água, saltou das margens e é agora o Rio Diz. Pelo caudal faz por merecer o nome… E no entanto esta ribeira nada tem a ver com aquelas outras que levaram dezenas de vidas na “Pérola do Atlântico”. Esta, apesar de tudo é bem comportada e, mesmo quando a Natureza mostra os seus maus humores, zanga-se só um poucochinho, espreguiça-se pelas margens chãs e, logo depois, regressa ao leito como menina bem educada. Aliás, parece até saber que tem de aproveitar a oportunidade para fazer a toilette e limpar aquilo que a incúria dos homens não tem limpo ao longo de décadas.

No mês passado, neste mesmo espaço, dei o título “Longe… tão longe” ao escrito mensal que se debruçava sobre a catástrofe ocorrida no Haiti. Não podia imaginar que, decorrido apenas um mês, a tragédia nos iria bater à porta de casa. Ali, onde a Pérola do Atlântico é também Portugal. Ali mesmo onde a enxurrada mal-humorada da Natureza e o desvario irresponsável dos homens se mancomunaram e levaram o luto à menina-dos-olhos do turismo nacional.

Entretanto, lá para as bandas de Aveiro, um tornado virava do avesso telhados e árvores. Enquanto isto, um outro se manifestava, com consequências igualmente desastrosas no Algarve.

A meio do percurso, e para não se ficar atrás, o Tejo galgava margens e inundava povoações já habituadas a sofrer ciclicamente estes fenómenos meteorológicos.

Em todos os casos “casa roubada, trancas à porta” e valha-nos a solidariedade dos portugueses, que nisso somos os melhores, os mais altruístas, os que mais ajudam de forma desinteressada e… blá, blá, blá…

Boa mostra esta do carácter de um povo (seja lá o que isso for…) mas, para quando, uma verdadeira política de prevenção numa área tão sensível como a de dar garantias de segurança à população? Afinal, quando os políticos são eleitos, são-no porque aqueles que neles votaram confiaram nas suas capacidades para gerir a sua área de intervenção. E gerir é também antecipar problemas, antever e planificar soluções. Não apenas reagir a posteriori, quando só já é possível remediar o mal.

Para quando, após tantos avanços científicos, o Homem se convencerá que a Natureza não pactua com as tentativas de assassinato de que tem sido, e continua a ser alvo?

Que estes últimos acontecimentos sirvam de lição e que os responsáveis sejam capazes de trancar as portas mesmo antes de os ladrões chegarem…

PS: Mesmo ao acabar este desabafo, a terra tremia violentamente no Chile. As imagens são aterradoras, o sofrimento lancinante, o desespero do tamanho do Mundo…Ao que parece o sismo terá também sido registado pelos sismógrafos nacionais. Será que é desta que não tremerá apenas a Terra e se abalarão também consciências?… Ver para crer…

Por: Norberto Gonçalves

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