Arquivo

PCP exige medidas «imediatas» para o sector têxtil

Comunistas reuniram com trabalhadores, empresários e sindicalistas na última sexta-feira

O grupo parlamentar do PCP vai exigir «medidas imediatas» do Governo para salvar o sector têxtil na Beira Interior, nomeadamente o accionamento da cláusula de salvaguarda. «Não é solução, mas neste momento é preciso ter um instrumento que nos permita recuperar até termos condições para concorrermos com a China», salientou sexta-feira o deputado Bernardino Soares, lembrando que esta cláusula permite colocar alguns entraves à China até 2008.

As medidas foram reivindicadas durante uma jornada de luta nos distritos da Guarda e de Castelo Branco, e voltaram a ser exigidas ontem na Assembleia da República [após o fecho desta edição] num debate agendado para pedir respostas concretas ao Governo sobre a crise que o sector atravessa, nomeadamente na região. O PCP reclama auditorias às empresas têxteis apoiadas na Beira Interior e a garantia de que nenhum edifício fabril possa mudar de uso enquanto não forem salvaguardados os respectivos postos de trabalho. A iniciativa juntou os deputados Bernardino Soares, José Soeiro e Jorge Machado, bem como Carlos Gonçalves, da comissão política, e João Dias Monteiro, do secretariado, e as direcções regionais. Os comunistas contactaram com os trabalhadores da Gartêxtil (Guarda), Bellino & Bellino (Gouveia) e Sotave (Manteigas), entre outras, para além dos sindicatos e administrações. «O que resta do sector representa 16 por cento da mão de obra activa desta região, pelo que é preciso ajudar a salvar os postos de trabalho existentes», disse João Abreu, coordenador do PCP da Guarda, para quem «há empresários competentes e honestos que devem ser ajudados».

Quem levou um balanço «muito preocupante» foi Bernardino Soares, para quem «as coisas estão a agravar-se». Por isso, o PCP reclama ainda programas concretos para desenvolver e recuperar o sector têxtil e de intervenção integrada na Beira Interior. Para além de um apoio específico no próximo Quadro Comunitário de Apoio (IV QCA) para investigação aplicada ao têxtil, desenvolvimento tecnológico e modernização das empresas, projectos de internacionalização e de afirmação de marcas. «É indispensável que um país em que os têxteis correspondem a mais de um quarto da sua produção industrial exija à União Europeia um programa próprio de financiamento e de apoio para o sector», sublinhou Bernardino Soares.

De resto, o parlamentar criticou aos sucessivos Governos por terem «abdicado de defender os interesses do sector» quando, em 2001, o Executivo de Guterres relegou para a União Europeia a entrada da China na Organização Mundial do Comércio. Bernardino Soares denunciou ainda a «falta de fiscalização» dos apoios financeiros concedidos pelo Estado às empresas e que permitiu «encher os bolsos de alguns empresários com menos escrúpulos». Lembrando que o sector representa 27,8 por cento do emprego industrial e mais de oito mil empresas, acredita que ainda vai a tempo de ser recuperado desde que se adapte às novas realidades económicas e tecnológicas.

Liliana Correia

Sobre o autor

Leave a Reply