«Se se limitar a somar municípios ou a dividir verbas comunitárias, esta CIM poderá rapidamente transformar-se noutra coisa qualquer porque ninguém vai sentir a sua falta». O aviso é de Paulo Fernandes, que na sexta-feira assumiu a presidência da Comunidade Intermunicipal (CIM) das Beiras e Serra da Estrela, sucedendo a Vítor Pereira, autarca da Covilhã.
A tomada de posse decorreu na Guarda, onde o presidente da Câmara do Fundão considerou que chegou a altura do «espírito CIM trespassar para a sociedade civil, que deve ter uma consciência sub-regional». Para tal, anunciou que no seu mandato, de dois anos, esta entidade vai ter «uma governança mais aberta» para que o cidadão possa conhecer os projetos e as decisões. «Sem isso é impossível os nossos concidadãos começarem a ter a perceção de medidas, ações e preocupações que nos são comuns», declarou. Outra prioridade de Paulo Fernandes é tentar implementar «uma lógica mais descentralizada e mais participada pelos municípios, as diversas entidades e os empresários no acompanhamento dos dossiers para encontrarmos economias de escala e fazer lóbi em defesa dos interesses e do desenvolvimento da região».
O responsável anunciou ainda que vai iniciar o diálogo com a CIM da Beira Baixa e outras entidades sub-regionais mais próximas para «aprofundar relações e ganharmos alguma escala e poder de reivindicação em assuntos e projetos que nos são comuns». Um relacionamento que também «é essencial» com a comunidade de Castilla y León, acrescentou o novo presidente da CIM Beiras e Serra da Estrela, que está preocupado com o atraso do novo quadro comunitário. «Os primeiros avisos deverão sair em fevereiro, espero que a CIM, as autarquias e os empresários estejam prontos», afirmou Paulo Fernandes. É que, na sua opinião, a região tem pela frente «um desafio muito grande devido a graves problemas de coesão, de desertificação e de falta de competitividade – temos metade das empresas por quilómetro quadrado que a média da região Centro –, além do problema endémico das acessibilidades».
Por sua vez, o presidente cessante, Vítor Pereira, declarou que o arranque da CIM Beiras e Serra da Estrela, a única no país que resultou da fusão de duas comunidades intermunicipais, «não foi fácil», mas considerou que está criado «um sentido e um sentimento de comunidade regional», que é preciso continuar a «solidificar». Para o edil da Covilhã, isso é «indispensável para os desafios que se avizinham», como a concretização do pacto celebrado com a CCDRC que garante um investimento de mais 44 milhões de euros. A «abolição total» das portagens na A23 e A25, a «diferenciação positiva» dos municípios em termos fiscais e a valorização das marcas turísticas, como a Serra da Estrela, o Côa, as Aldeias Históricas e do Xisto, vão ser, na sua opinião, os desafios a concretizar nos próximos anos. Vítor Pereira declarou ainda que a CIM deve refletir sobre a fusão com a vizinha CIM da Beira Baixa porque «só assim este território terá escala e peso político». Uma tarefa que Paulo Fernandes assumiu, embora tenha lembrado que a junção não será viável antes de 2020.
A Beiras e Serra da Estrela é constituída por 12 municípios do distrito da Guarda (Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Guarda, Gouveia, Manteigas, Meda, Pinhel, Seia, Sabugal e Trancoso) e três do distrito de Castelo Branco (Belmonte, Covilhã e Fundão).
CIM vai ter «papel reforçado» na promoção turística
Em dezembro, a CIM das Beiras e Serra da Estrela aprovou uma recomendação dirigida ao Governo a exigir a criação de uma entidade autónoma de turismo para a região.
Mas na semana passada a secretária de Estado do Turismo afirmou que o atual modelo de organização das entidades regionais de turismo não vai ser alterado. «O que pretendemos é que haja estabilidade do modelo, com afinações em função de estratégias, para garantir que o trabalho se desenvolva com normalidade», disse Ana Mendes Godinho. Gorada esta hipótese, Paulo Fernandes adianta que as CIM vão ter um papel «muito reforçado» na comunicação e no marketing de cada uma das suas sub-regiões turísticas. «É um desafio se se concretizar, mas já pode sanar algum vazio que se pode sentir na promoção da região e das suas diversas valências turísticas», considerou o presidente da CIM.
Luis Martins