A Paula, como tantas outra pessoas, tem um trilema. Conheceu o Fernando e o Manuel na infância e dividia por eles o coração. Gostava de ambos quando os via e ficava constrangida dos encontros a três. Como a canção de “Bebo e Cigala”, tentava explicar como podia amar dois amigos de uma vez. Paula casou com Fernando quando Manuel desistiu dela, ou por que se afastou, ou porque se cansou, ou porque simplesmente “desgostou-a”, ou talvez tenha combinado com o Fernando depois de atirarem moeda ao ar. O facto foi que, no sábado, ele disse adeus e anos depois ainda se perguntava onde haveria ido, que seria dele. Casou com o que estava mais à mão. Coração partido na mesma. A metade ferida deu-lhe uma arritmia que médico algum soube explicar ou tratar. Paula tinha o seu trilema composto num samba de dois tons apenas. A metade perdida trouxe-lhe desejos, compulsões e até o Jorge, que se converteu em noites de suor, de beijos e de arrepios. Com Jorge sentia a paixão, com Fernando a ausência dela e as arritmias marcavam a espera por um Manuel que acabou por chegar naquele dia louco. O quatrilema existia agora. Um coração louco, um dia fulminante e uma rua e uma mão na mão e um sorriso de Jorge, que dobra a esquina com seu amigo que vem da Suíça e cora sem que se saiba porquê. Jorge apresenta-se a Fernando e ela calada, Jorge introduz o amigo que diz que os conhece muito bem. A mão escorrega da mão, os beijos trocam-se de Paula com Jorge, de Paula com Manuel e de Fernando soltam-se abraços para Manuel, uma mão na mão de Jorge e um coração louco que se liberta em descompensados ritmos que ninguém entende. Paula sentada fantasia “Bebo e Cigala”, eles falam os três na mesa dela e todos sabem o que sabem e não sabem nada do que os outros sabem que Paula sabe que só sabem aquilo que ela lhes permite que eles digam. O trilema da Paula resolve-se esta tarde quando deixa Fernando estonteado, revela a Manuel sua intenção e despede Jorge do dilema que agora nasce. Uau, life can be surprising.
Por: Diogo Cabrita