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Património arqueológico tem sido «muito pouco» valorizado

Manuel Sabino Perestrelo estudou e inventariou os vestígios da presença romana em Pinhel, Guarda, Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Trancoso e Mêda

«Este é o ponto de partida de um trabalho que terá que ser mais desenvolvido com o envolvimento das autarquias e associações culturais da região». Manuel Sabino Perestrelo, arqueólogo e autor do livro “A Romanização na Bacia do Rio Côa”, apresentado na semana passada, espera que estas entidades apostem em mais intervenções nos locais descritos, que são de «grande importância», e na criação de circuitos de visitas. «Esta região só pode beneficiar com o turismo patrimonial, com a vertente científica e do património», acredita o professor da Secundária de Pinhel.

Para Manuel Sabino Perestrelo, também colaborador de “O Interior” com a coluna “Os Cantos do Património”, o património arqueológico é «uma mais-valia que se tem valorizado muito pouco em toda esta região, à excepção de Vila Nova de Foz Côa e Freixo de Numão» e que urge aproveitar. Nesse sentido, “A Romanização na Bacia do Rio Côa”, editado pelo Parque Arqueológico do Vale do Côa, apresenta os sítios arqueológicos romanos e pré-romanos conhecidos na região do Médio Côa. A obra, que resulta da sua tese de mestrado sob a orientação do professor Jorge de Alarcão, enquadra os vestígios encontrados no concelho de Pinhel e em porções dos municípios vizinhos da Guarda, Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Trancoso e Mêda. Apresenta assim um inventário de sítios que será certamente útil para a implementação de projectos locais de valorização patrimonial e a criação de um turismo de qualidade. Do estudo destacam-se, pela sua importância e notoriedade regional, as ruínas romanas da Póvoa do Mileu, actualmente em escavação. Trata-se de uma investigação que poderá trazer novas informações sobre a preferência dos romanos por determinadas zonas da Beira Interior.

Realce também para uma das mais antigas inscrições latinas descobertas no actual território português. Consagrado ao imperador Octávio César Augusto em 23 ou 21 A.C., o achado situa-se na pequena aldeia de Argomil, na zona Sul do concelho de Pinhel. Os vestígios da única cidade romana identificada no território do Médio Côa – a cidade dos Aravos – e a forma como se estruturava o povoamento no território desta civitas são outro grande capítulo do livro, graças aos abundantes testemunhos epigráficos sobre a sua existência, nomeadamente as ruínas das termas e do templo, reveladas mais recentemente. Outra civitas analisada no livro é a cidade dos Cobelcos, descoberta em 1998, perto de Almofala, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, e cujo centro pode ser visto na chamada “Torre de Almofala”. “A Romanização na Bacia do Rio Côa” deixa ainda em aberto a hipótese de terem existido outros núcleos urbanos centrais no território em análise, nomeadamente naquela que é identificada como uma villa romana: as ruínas da Póvoa do Mileu. Já nas Freixedas (Prados), Coriscada (Gravato ou Quinta do Campo), Cidadelhe e Santa Eufémia, entre outros, foram descobertos alguns núcleos urbanos secundários.

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