Com poucas referências à atual conjuntura política, Pedro Passos Coelhos mostrou-se confiante ao longo do discurso da tomada de posse, dando a entender que o atual momento político do país, nada tem de invulgar. Pelo contrário o Primeiro-Ministro referiu-se a um «renovado e fortalecido apelo ao espírito de cooperação e construção de entendimentos» entre «todas as forças políticas, cívicas e sociai». Para a oposição ficou ainda a mensagem: «Ninguém deve arriscar o bem-estar dos portugueses em nome de uma agenda ideológica ou de ambições políticas pessoais ou partidárias», referiu o Primeiro-Ministro.
«Tendo recebido dos portugueses um mandato claro para governar, assumo a responsabilidade indeclinável de respeitar essa vontade dos portugueses», avisou. Bem articulado com o Presidente da República, que tinha acabado de lhe pedir espírito de compromisso, Pedro Passos Coelho assumiu o desafio: «Sem desvirtuar a matriz de valores que sustenta o programada sufragado pelos eleitores, o Governo tem o encargo de mostrar abertura ao compromisso com todos os agentes políticos, sociais e económicos».
Nada que possa pôr em causa os princípios essenciais da coligação PSD/CDS. «Reafirmo os princípios a que estivemos e estamos vinculados». Passos não aliviou a agenda: «Persistiremos no cumprimento das nossas obrigações internacionais e no exercício dos direitos e deveres que decorrem da nossa participação plena na União Europeia e na União Económica e Monetária».
Alertando que o cumprimento desses compromissos é «uma condição absolutamente indispensável para assegurar o nosso futuro comum com estabilidade e previsibilidade», o PM lembrou que «o caminho (ainda) é estreito» e «só quem sabe o caminho que é necessário trilhar pode chegar ao destino que pretende».
Passos Coelho definiu duas grandes prioridades para o seu novo mandato: o combate às desigualdades sociais e ao ciclo de pobreza, com a ressalva de que «não há contradição entre a redução das desigualdades e o reconhecimento dos méritos»; e uma «nova fase de modernização administrativa», que facilite a vida a cidadãos e empresários.
O discurso de posse começou por revisitar os últimos quatro anos. Desde «o desastre económico e social de proporções inimagináveis» que encontrou quanto chegou ao poder. Até à recuperação económica e social do país, que «se tornou de novo atrativo para o investimento estrangeiro». Passando pelos apoios sociais aos mais carenciados, seja nos cuidados de saúde, seja nas pensões mínimas «sempre atualizadas».
Passos agradeceu o esforço coletivo dos portugueses «que com coragem e moderação levantaram de novo o país». E deixou o aviso: «desrespeitar esse esforço traduz-se por pôr em risco tudo o que juntos alcançámos. E isso, eu enquanto primeiro-ministro, nunca farei».
Mais à frente, insistiu: «desvios precipitados deitariam tudo a perder … e isso eu, enquanto PM, não permitirei que volte a acontecer». Ter contas públicas certas, reduzir progressivamente a carga fiscal, estabilizar e monitorizar as reformas estruturais feitas e iniciar um novo ciclo de reformas, são prioridades do programa do novo Governo.
Na tomada de posse, Passos quis ser coerente com o que tem dito desde 4 de outubro: que o Governo politicamente legítimo é o seu e que o normal é ser ele a governar.
À saída do Palácio da Ajuda, acompanhado da mulher, não respondeu a perguntas dos jornalistas: «Julgo que já os avisaram de que não iria falar». Um sorriso sem mais. Enquanto aguarda as cenas dos próximos capítulos.