“Spotlight” (Tom McCarthy), um dos favoritos ao Óscar, tem a notável qualidade de, baseando-se no caso real de investigação jornalística sobre os abusos sexuais que envolveram, num passado recente, a arquidiocese de Boston, focar-se mais no como (a investigação) do que no quê (o próprio escândalo). Como trunfos, este drama conta com um ótimo guião e montagem, o seu caráter histórico fielmente retratado, uma fotografia apreciável e algumas falas cortantes. Embora as personagens pudessem ser mais afloradas, o filme, que enaltece um tipo de jornalismo que quase já não se vê, é um “must-see”. 4/4
Um drama a puxar para o “underground”, “Room” (Lenny Abrahamson) é um poético e doloroso filme sobre a capacidade humana para se adaptar a novas realidades e estabelecer relações afetivas. O maior trunfo do filme é a sua capacidade em levar o espectador a identificar-se profundamente com os dois protagonistas, com destaque para Jack (Jacob Tremblay), a criança que desconhece o mundo exterior (graças essencialmente ao espirituoso guião e à câmara subjetiva). Devo destacar também o ritmo envolvente, os diálogos de enfâse dramática e a fotografia (que transmite ora claustrofobia ora sensação de liberdade). É o mais insólito dos filmes nomeados. 4/4
O mais fascinante de “Bridge of Spies” (Steven Spielberg), drama/thriller baseado num caso real, reside em mostrar, com bastante imparcialidade, os dois adversários da Guerra Fria. A fotografia sumptuosa e melancólica, o sólido guião, a banda sonora espirituosa e algo inquietante e o lado humanista da história são outras qualidades deste “must-see”. Elogios à parte, “Bridge of Spies” peca por ter um ritmo demasiado lento que diminui a adrenalina própria do suspense, já para não falar do final algo insípido. 3,5/4
Com algumas parecenças em relação a “The Wolf of Wall Street” (Martin Scorsese, 2013), “The Big Short” (Adam McKay), uma comédia dramática baseada em factos reais, possui trunfos poderosos como a sua faceta histórica, a sua crítica ao “american way of life”, a montagem apreciável e algumas falas cortantes. Ainda assim, o filme peca por a história ser um pouco confusa. 3,5/4
Miguel Moreira*
* Licenciado em Ciências da Comunicação e mestre em Cinema pela Universidade da Beira Interior. Autor do blogue “Ziegfeld Boy”