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Os professores dos nossos afectos

O texto de António Ferreira, publicado na edição nº 429 de O INTERIOR, comoveu-me profundamente. Intitulada “Professores”, a crónica aborda a questão do ensino em Portugal da forma mais correcta e inteligente: recorrendo aos afectos. «Devo o melhor de mim, e algum do pior, aos meus professores», escreveu António Ferreira. Efectivamente, nada se sobrepõe – ou deveria sobrepor-se, quando se fala na questão dos professores em Portugal (matéria tão em voga) – a esta verdade: os professores são, ou deveriam ser, verdadeiros mentores, tutores e que detêm uma enorme quota de responsabilidade sobre o futuro das crianças e dos jovens que serão a sociedade de amanhã.

Tive óptimos professores na Secundária Afonso de Albuquerque e professores “assim assim” na Faculdade. Todos eles, de uma forma ou de outra, são responsáveis por tudo aquilo que veio depois. Encontro a Professora Alcina, de Português, invariavelmente, nas contracapas de todos os livros da livraria do centro comercial (porque as bibliotecas, como sabemos, saíram de moda, pertencem ao passado – ao mesmo passado dos professores dos nossos afectos). Encontro os “tenebrosos” professores de Matemática (que me surgem catalogados na memória, um por um, como se de um livro de selos se tratasse) em todas as situações embaraçosas em que fazer uma conta do género “2 +2 são 4” se torna um verdadeiro desastre e uma provação assustadora à minha inteligência.

Isto apenas para dizer que a questão dos professores tem de ser tratada com mais afecto e menos autismo. Afinal de contas, tudo começa nas universidades, de onde saem, todos os anos, milhares de professores, muitos deles não sabendo escrever uma frase correcta na língua materna. Milhares de professores jovens, cuja língua é expressa com “k” e “x”. Milhares de novos professores que não o sabem ser. Não sabem ser pessoas. Não sabem ser nada. E são estes professores os responsáveis pela educação das gerações vindouras. Depois admirem-se que a mediocridade impere na juventude dos nossos dias, que os livros tenham passado de moda, que estejamos cada vez mais ignorantes e menos aptos.

Há tempos a ministra da Educação dizia que, num universo tão grande de profissionais (cerca de 140 mil professores), o Estado tem o direito de escolher os melhores. Naturalmente que sim. Trata-se, inclusivamente, de uma obrigação do Governo que ditará, de forma determinante, o futuro da nação. É por tudo isto que o texto de António Ferreira me impressionou e, até, comoveu. Escreve-se diariamente sobre os professores deste país, mas poucos terão escrito sobre os “nossos professores”, aqueles que fizeram de nós aquilo que somos. Ser professor é uma profissão de grande nobreza e importância, por isso, são precisos bons profissionais e cada vez melhores. Que saibam escrever, que dominem na perfeição as matérias e que, acima de tudo, sejam apaixonados pela causa de educar. Parece que a sociedade se esqueceu que um professor é, antes de tudo, um educador.

Maria Gonçalves Ferreira, Guarda

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