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Os parques e a política

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Embebeda-te de poder e estrangulas a razão. Enche-te de dinheiro e tolda-te a visão. Porque sempre foi assim, podemos ver nos gestos dos políticos grandes e pequenos, da centralidade e da província, imensos tiques semelhantes. A maioria odeia o anonimato e quer deixar obra que se veja. O serrano odeia o monte, as árvores e os parques. Nasceu na quietude da saloia terra e envergonha-se da origem. Ele quer praças e rotundas, ele quer obras de luz e cor. O provinciano sonha com os prédios e o cimento, entende que o antigo esmaga, que a história é culpada da fome. Em vez de lutar contra os constrangimentos, as portagens, a falta de fábricas e de parque industrial, ataca o que não ofende e não luta. A Guarda é um paradigma da falta de lucidez. Um IPG que caminha para o fim, uma hotelaria sem programação abrangente, a morte lenta de espaços culturais, a agonia do comércio quer tradicional quer de shopping. A Guarda de 1998 não é a cidade de 2016. Para o lembrar vamos retirar as árvores. Vamos pelo parque municipal e arrancamos o bom e o mau. Entretanto abandonamos a judiaria. A cidade da Guarda suicidou-se na entrada do segundo milénio com o fecho de fábricas onde trabalhavam milhares de jovens. Cada mulher sem emprego arrastou os filhos e o marido para outras paragens. Se não houver gente não há comércio, não há saúde, não sobrevivem shoppings, as lojas definham, os consultórios ficam vazios, os restaurantes desaparecem, os parques não têm crianças. Por isso não vale a pena reconstruir jardins, nem alterar a urbanidade. A prioridade é trazer gente, reduzir custos de transporte, arranjar esquemas de incentivo para fábricas. Se um presidente da Câmara da Guarda desaparecer da cidade durante meses e regressar com estas formas de atrair pessoas fez mais que todos os outros. As árvores e os jardins tornam-se lugares de encanto porque passeiam neles, sob as sombras das copas, as crianças.

Por: Diogo Cabrita

Comentários dos nossos leitores
Marianela Esteves lauviah180@gmail.com
Comentário:
Meus Parabéns ao autor do texto! Ninguém diria melhor sobre a nossa cidade! Sr. Presidente:agarre a sugestão
 

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