Arquivo

“Os Índios”

«Os empregos, que por facções e por intrigas se alcançam, por intrigas e por facções se perdem».

“Quando a ambição se apodera da alma, dissipa todos os outros sentimentos; e desde que ela fala, cala-se a Natureza.”

“Pensamentos, Máximas e Provérbios”. Conselheiro José Joaquim de Bastos.1854.

Nos dias de hoje vêm-me há memória conselhos avisados dados por AMIGOS, para que me aposentasse da Função Pública pois se o não fizesse teria grandes desgostos. Se na altura agradecia os seus conselhos, hoje estou-lhes eternamente grato.

Explico porquê.

Desde que certa classe de políticos se repete exaustivamente sobre “esta matéria”, será “inequívoco” que os tempos dos iletrados vão ganhando terreno apoiados por uma escandalosa falta de nível intelectual e cultural que os “inequívocos” possuem, acrescido duma falta de respeito, de sensibilidade e honradez para com a Sociedade que os sustenta. Princípios básicos que antigamente eram sinónimo de progressão na carreira e vivência numa Sociedade sã, normal, educada e respeitadora de ideais.

Razão tem José Saramago, que afirmou aquando das cerimónias da entrega do Prémio Carlos V, ao Dr. Jorge Sampaio:

“O espectáculo que o nosso País dá imagino que é deprimente, para quem lá vive todos os dias. Há uma espécie de decadência moral e de intoxicação do chamado nervo da honradez.”

Tudo o que escrevemos tem a ver com um artigo (ou excertos de uma entrevista) publicado no “Correio da Manhã” de 2004-10-04,onde o Senhor Secretário de Estado da Agricultura, Engenheiro Agrónomo David Ribeiro de Sousa Geraldes, declara preto no branco:

“Uma Direcção Regional de Agricultura tem 47 Chefias. Eu diria que são mais chefias que ÍNDIOS”.

Estamos a ver que a “descentralização” operada por este Governo fez mal ao Senhor Secretário de Estado, pois enquanto foi Funcionário Público em Vila Franca de Xira, Caldas da Rainha (local a que “regressou” com a condição de técnico e por isso ficou na altura “mais motivado, porque vai estar em tarefas concretas”) e Santarém (onde ganhou alergias a barracões) em nada mudou a sua postura social e técnica que os seus colegas nele lhe reconheciam.

Mas eis que, após trabalho árduo desenvolvido no Gabinete de Estudos do seu partido político na definição das linhas programáticas sobre a Agricultura em Portugal (até chegar o Engenheiro Mira Amaral?) e posteriormente por nova passagem como Director Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste, seguindo depois para o cargo de Presidente do Conselho de Administração da P.E.C., eis que finalmente poisa na Golegã, numa casa apalaçada, para descobrir da sua janela, que a Lezíria Ribatejana se tinha transformado numa “pradaria americana” e que todo o funcionário do seu Ministério que não ocupasse o cargo de chefia (será agora “cow-boy”?) ou de director (será agora “sheriff”? ) era um ÍNDIO!!!!!

Ao ponto a que isto chegou.!!

Cuidado pois, criadores de galos, pavões, patos, galinhas e aves com penas vistosas. Guardai-as bem fechadas, pois os “Índios” do Ministério da Agricultura terão possivelmente, após a publicação da nova Lei Orgânica, de andar com uma fita com penas em volta da cabeça, levando na cintura o seu “machado de guerra” e, em vez de se deslocarem ao campo numa 4L, irão montados em cavalos sem sela, conquistados no “rancho” do inimigo. Desta forma todos passarão, citamos S.E.S.E.A.: «Para que o poder de decisão esteja mais perto dos agricultores”. Os outros, que analisarão as “decisões dos índios”, continuarão a fazer política e a defender as suas desmedidas ambições.

Haja Deus!

Nota: Porque estou aposentado, já não sou chefe, já não posso ser “índio”, pude escrever esta singela, mas magoada, opinião. Se não tivesse este estatuto de descartável teria certamente de passar pelo moderno “contraditório”. Safa!

Por: António Moraes

Sobre o autor

Leave a Reply