P- Qual o balanço da Taça das Regiões em termos desportivos e organizativos?
R- Em termos desportivos, acho que foi muito mais além do que eventualmente poderíamos ter pensado no início, já que o distrito da Guarda está, em termos socioeconómicos, entre os mais pobres do país e, se tivermos isso em conta, vemos que a seleção da Guarda conseguiu, em Castelo Branco, na primeira fase, ultrapassar Aveiro, Coimbra e Castelo Branco, com duas vitórias e um empate, e posteriormente na segunda fase apenas sofreu uma derrota. Fomos a única seleção a empatar com o vencedor da Taça das Regiões, Lisboa. No primeiro jogo, o único que perdemos, a 10 minutos do fim estávamos a ganhar. Foi nos últimos minutos de um jogo onde até fomos superiores que as coisas correram mal. Se tivéssemos ganho esse jogo a história poderia ter sido diferente. Depois no segundo jogo, com Braga, estávamos a ganhar por 2-1, a cerca de 15 minutos do fim, e consentimos um empate. Já o terceiro foi conseguido com uma boa exibição, a fazer fé nas palavras de responsáveis de Lisboa, que disseram que foi a melhor seleção que encontraram em toda a Teça da Regiões. Por tudo isto, os clubes da Guarda estão de parabéns porque nos deram a possibilidade de constituirmos uma seleção de bom nível. Há também mérito da nossa direção técnica, nomeadamente o diretor técnico regional, que conseguiu selecionar e instruir uma equipa com uma boa participação. A nível nacional, estamos entre as quatro melhores seleções distritais do país. Em termos de organização, não seremos os mais indicados para referir, mas ouvi da boca de responsáveis de outras comitivas e da própria Federação Portuguesa de Futebol (FPF) que foi das melhores organizações em que estiveram presentes. Temos que nos sentir satisfeitos com o trabalho que fizemos, pois obtivemos como retorno uma apreciação favorável.
P- Foi um teste para a Associação de Futebol da Guarda (AFG) poder vir a acolher competições de maior envolvência?
R- Esta já não é propriamente uma primeira experiência. Recentemente realizamos um torneio internacional, embora de carácter feminino, que apurava uma seleção para disputar a fase seguinte do Campeonato da Europa. Tivemos entre nós, para além da nossa seleção, as equipas da Noruega, Israel e Estónia. Portanto, já começamos a ficar com alguma experiencia. Mas é claro que para tudo é preciso trabalho e esse tem sido conseguido. A grande alma deste trabalho tem sido o secretário-geral Artur Batista, que contou com todos os elementos da direção.
P- Em termos desportivos, o futebol distrital está mais competitivo?
R- Infelizmente não posso dizer que está mais competitivo se tivermos em conta os escalões de formação, já que os clubes não se conseguem manter nos Nacionais quando sobem. Em termos séniores, o Sabugal, que começou bastante mal, e vai com sete jogos sem perder começa a disputar a segunda fase com todas as possibilidades de se manter no Campeonato de Portugal. Portanto, é um aspeto positivo. Já no futsal, a Casa do FC Porto na Mêda acabou por desistir do campeonato, o que lamentamos. Também temos esperança que o Lameirinhas se possa manter. É um clube que há relativamente pouco tempo estava a disputar os primeiros lugares de acesso à principal divisão nacional da modalidade, mas este ano está “aflito” para evitar a descida. Não o podemos negar, mas ainda falta uma segunda fase e acreditamos que vai conseguir evitar a despromoção, até porque está extremamente bem dirigido por um excelente treinador.
P- A AFG pondera candidatar-se junto da FPF para receber futuros jogos da seleção principal?
R- Não temos nenhum recinto desportivo que possa candidatar-se à organização de um jogo da seleção A porque é obrigatório o mínimo de 25 mil lugares sentados. Não temos nenhum estádio com essa capacidade. E temos ainda outro problema: em provas oficiais, seja em que escalão for, os jogos têm que ser realizados em estádios que não distem mais de 120 quilómetros de um aeroporto. Por vezes, essa parte conseguimos ultrapassar, pois já cá tivemos outros escalões, mas são os problemas da interioridade e da falta de grandes infraestruturas e, no fundo, também de não termos grandes clubes de referência. Existe o desejo, mas temos alguns entraves. Temos uma relação privilegiada com a direção da FPF, que nos tem proporcionado a realização de vários torneios no nosso distrito, mas também eles próprios não podem ultrapassar determinadas normas, como seja a questão dos recintos desportivos, a qualidade e, acima de tudo, a possibilidade de assistentes nos recintos desportivos.
P- Que outros projetos tenciona desenvolver?
R-Logicamente que a AFG, como deveriam ser todas as associações, tem especialmente atenção à formação e dentro desse aspeto cada vez temos mais atletas e mais clubes a participar no início da atividade desportiva. Refiro-me às escolas de futebol, que conseguimos que sejam de clubes inscritos na AFG. Não temos felizmente escolas privadas no nosso distrito. Ainda no campo dos projetos, temos um determinada tradição do futebol feminino e por isso decidimos apoiar os clubes que tenham equipas femininas com uma verba de 500 euros por cada equipa que inscrevam na AFG, além de não pagarem absolutamente nada em termos de inscrições. Também no futsal, uma variante em expansão, atribuímos subsídios a todos os clubes que inscrevam equipas dos escalões de formação nos nossos campeonatos distritais. É um projeto que julgamos que irá trazer mais atletas à prática desta variante de futebol e que ajudará a que os jovens se dediquem mais ao futebol, evitando que caminhem para outras situações menos recomendáveis para a juventude. A FPF dá também a possibilidade das associações e dos clubes concorrerem à atribuição de verbas para melhoria ou construção de novas instalações desportivas, dentro de determinados valores. Nós estamos a incentivar os clubes e apoiá-los-emos se apresentarem projetos até 31 de março para obtenção de benefícios dentro das suas infraestruturas desportivas.
P- Quais as principais dificuldades?
R- São as dificuldades inerentes a qualquer cidadão português, ou seja, a falta de verbas para podermos ir mais além, dentro dos nosso objetivos. Os clubes têm dificuldade em cumprir dentro do tempo normal dos seus compromissos com a AFG, o que por vezes nos provoca alguns constrangimentos. Mas vamos conseguindo levar o barco a bom porto. A AFG não tem dívidas, embora isso nos obrigue a uma ginástica financeira, o que é também uma forma de apoiarmos alguns clubes que, no final, acabam por cumprir os seus compromissos. Bom seria que as autarquias olhassem de maneira diferente para os clubes de futebol do distrito da Guarda, até porque o futebol neste momento é das principais atividades do país.
Perfil:
Amadeu Andrade Poço
Presidente da Associação de Futebol da Guarda
Idade: 68 anos
Naturalidade: Souropires (Pinhel)
Profissão: Aposentado
Currículo: Foi presidente da Câmara de Pinhel, presidente da Assembleia Municipal de Pinhel e bancário
Filme preferido: Doutor Jivago
Hobbies: Futebol e passear