As pessoas andam indignadas com o abate de cedros numa rua da Guarda (indiscriminado segundo uns, discriminado no parecer de outros). Como não moro por ali, talvez esteja a favor dos que acham que é um abate indiscriminado, mas confesso que não é uma “guerrazinha” que me interesse de sobremaneira!
Acho que este momento de tanta indignação já deveria ter ocorrido há muito e razões mais que muitas haveria nestes quarenta anos de gestão democrática da autarquia da cidade.
Conseguiu-se colocar a Guarda como, provavelmente, a mais feia cidade capital de distrito do país, quando tinha todas as condições de poder ter tido um desenvolvimento harmonioso adaptado a uma configuração natural de cidade de montanha.
Ao invés, o patobravismo tomou conta da cidade e rapidamente surgiram os disparates e o ordenamento urbano faz lembrar um pouco a faixa de Gaza. Ruas que apertam e desapertam em função de interesses diversos, que finalizam de forma abrupta, o que faz que bairros recentes se consigam transformar em locais labirínticos.
Foi a cidade que foi deixando morrer o seu centro histórico, a sua notável praça, onde a grande preocupação das pessoas é saberem onde vão colocar um rei, que na Guarda tinha interesses de alcova que ultrapassavam os desígnios do Estado. Por mim pode ficar onde está, desde que haja coragem e incentivos para que os edifícios circundantes possam ser reabilitados para promover a atividade económica da cidade. Se isso acontecesse de certeza que se dispensaria a construção de um chapéu-de-chuva na Rua do Comércio.
Ninguém se indignou quando deitaram abaixo um mercado com algum interesse arquitetónico e que em Portugal e noutros países se transformam estes espaços em novos lugares que potenciam locais de dinâmica económica inovadora e são centro de confluência de gentes para usufruir das novidades que estes centros proporcionam.
Em seu lugar nasceu um megatério “Ceausesquiano”, num horrível granito polido com uma torre de controlo, que teria alguma utilidade para apoiar uma pista de 2.000 metros e que na cidade da Guarda nem um farol de boas ideias conseguiu ser para se inverter o caos urbanístico em que a cidade se tornou.
Quando se vê uma movimentação em torno do abate de uns cedros interrogo-me onde andou esta gente que assistiu anos a fio à degradação da cidade, sem ver nascer qualquer movimento cívico que, apoiados em técnicos, pudessem ter permitido inverter a realidade pungente que hoje assistimos.
Para que conste, não habito na Guarda, nem sou de cá mas julgo que tenho direito a opinar sobre o assunto!
Por: Fernando Pereira