Ferro Rodrigues e os socialistas da Guarda compararam o passado com o presente na última sexta-feira e concluíram que «as coisas estão a correr muito pior que dantes». No final de uma jornada dedicada aos incentivos ao desenvolvimento do interior, o secretário-geral do PS disse ter mesmo a «perfeita noção» que há «diferenças extraordinárias», considerando que a actual política do Governo de Durão Barroso põe em causa a «credibilidade do Estado ao enganar as expectativas dos empresários que aqui investiram».
Após duas reuniões com o Nerga – Associação Empresarial da Região da Guarda e a Associação Comercial da cidade e a visita a uma empresa de lacticínios, Ferro Rodrigues terminou o dia participando num debate no Hotel de Turismo com os deputados do PS eleitos pelo círculo da Guarda. Fernando Cabral, também presidente da Federação local, começou por evocar o PIDDAC «miserável» para o distrito em 2004, repetindo que por cá «não se vê obra nova» e a que está em curso ou em fase de conclusão «vem do anterior Governo». Já Pina Moura recordou que o PS «virou uma página» da política para o interior: «Fizemos muito em seis anos. Apostámos na infraestruturação rodoviária, social e energética. Ajudámos a salvar dezenas de empresas têxteis que hoje continuam a laborar e criámos um sistema de incentivos fiscais», lembrou, lamentando que o PSD esteja a «desbaratar» o património deixado pelos socialistas. «Sempre pensei que o actual Governo o aproveitasse», refere, constatando, pelo contrário, que o Executivo de Durão Barroso «não tem política nenhuma» para o interior. A prová-lo está, segundo Pina Moura, a atitude de Manuela Ferreira Leite no caso do fim da redução de IRC para as empresas que se instalaram na região. Sem contemplações, o deputado considera que a ministra das Finanças foi «incompetente, negligente e revelou uma falta de compreensão que não tem só a ver com a política fiscal» por não ter negociado a continuidade destas medidas com Bruxelas.
A estes epítetos, Ferro Rodrigues juntou as acusações de «leviana, incompetente e irresponsável»,uma vez que as pequenas e médias empresas do interior irão ser prejudicadas neste orçamento por causa do aumento do IRC. «Durante os Governos do PS, foi aprovado um conjunto de legislação que permitia favorecer claramente as regiões do interior no que respeita ao investimento produtivo e fixação de empresas», lembrou o secretário-geral do PS, para quem o facto de ter havido uma mudança de Governo «não pode pôr em causa os compromissos que foram assumidos anteriormente e que levaram muitos jovens empresários a instalar-se em regiões como a da Guarda». Por isso, Ferro Rodrigues considera que o Orçamento de Estado para 2004 «faz mal à saúde do interior e deve ser alterado enquanto é tempo», assegurando que o PS vai assumir na Assembleia da República «as suas responsabilidades ao apresentar propostas de alteração na especialidade». Mas também espera que «as forças empresariais se movimentem para que este Governo não possa fazer tanto mal à saúde de tantas empresas, que é aquilo que pode acontecer se este orçamento for aprovado».
Entretanto, em comunicado, a distrital do PSD classificou esta visita de «simples folclore pessoal» de Ferro Rodrigues. Na opinião dos social-democratas, a vinda do secretário-geral do PS à Guarda foi uma «manobra de diversão para mascarar os problemas internos do seu partido», enquanto o debate se resumiu à «história da bruxa: “espelho meu, espelho meu, haverá alguém mais só do que eu?». A distrital considera também que Ferro Rodrigues «não trouxe nada de novo» e se esqueceu que «ainda não conseguiu concretizar a PLIE, cujo principal culpado é a Câmara da Guarda, que se fartou de afirmar que o tráfego do IP5 não justificava a sua transformação em auto-estrada e que nunca teve um projecto concreto para o Vale do Côa». Para o PSD da Guarda, se existem hoje dificuldades orçamentais, elas devem-se «tão somente à desgraça em que os seis anos de governação socialista mergulharam o país».
Luis Martins