O Zé que existe dentro de nós sempre pensou que a Política é a única função responsabilizante, que todos podemos exercer sem qualquer exigência ou qualificação.
Parece contraditório, com a crescente complexidade das funções políticas, que o debate das ideias ceda, apoucado, à proliferação de um populismo básico e relaxado. Aproximando-se mais uma campanha eleitoral não faltam por aí Zés marialvas e populistas para todos os gostos. O Zé que está mais em voga aparece mal estoura um foguete, sempre à frente das câmaras, quase encavalitado no ombro do ministro, distribui com fartura beijos e abraços e possui uma garganta por onde desliza sempre e bem uma boa pinga!
As ideias, os projetos e as estratégias substituídas pelo fogo-de-artifício, a festa e o improviso. Como os discursos ficam para o fim, compreende-se como o populismo campeia, pois, mesmo com a língua um pouco presa, a imaginação e o devaneio soltam-se e é promessa a torto e a direito.
Quando o Zé discursa, num ambiente já animado, a crítica é fácil, o estilo é verrinoso, o argumento é o passado e a história a do coitadinho. Se há o Zé que vai a todas, também há os Zés que só andam com a corte, onde outros Zés beijam, abraçam e bebem por ele.
Os Zés que têm mais dificuldade são os Zés da oposição. A corte é pequena, o circo menos concorrido, a vida mais difícil. Mas há coisas a que o Zé não resiste. Aparecer nos jornais, nas redes sociais, nas procissões, no futebol, nas escolas, nos aniversários das coletividades, em tudo que seja ou funeral ou festa. A festa é o reino popular do Zé!
A música, a animação, as luzes, os foguetes, as tascas de comes e bebes, as crianças, o povo, o Zé distribui abraços, piadas, risos, promessas, críticas e copos em dose dupla, tripla, mas tem sempre tempo para umas selfies de sorriso aberto com as vedetas e os artistas.
É o Zé no seu melhor! Este Zé não resiste a uma boa dose de critica ao passado. Seja por complexo, por necessidade de afirmação, por inveja do sucesso dos outros ou mesmo por intolerância, o Zé é demolidor na crítica.
O “Sermão da Montanha” não é nada comparado com o rol e a dimensão da crítica, da quantidade das denúncias, do peso da herança, dos trabalhos a empreender.
O Zé é cada vez mais intolerante com a crítica, sente que tem direito à reverência dos outros e conta com ela, estimulando a dependência financeira das instituições para cobrar o favor. Sim, porque ele, Zé, é sempre o maior! Nunca houve nem haverá jamais na terra pessoa mais competente, atenta, amiga que o Zé.
É o Zé candidato!
Por: Júlio Sarmento*
* Antigo líder da Distrital do PSD da Guarda e ex-presidente da Câmara de Trancoso