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«É preciso fazer renascer a Fundação Côa Parque depois de um período dramático de abandono político e agonia financeira»

Cara a Cara – Bruno Navarro

P – Qual é a sua primeira prioridade na presidência do conselho diretivo da Fundação Côa Parque?

R – Os enormes constrangimentos por que passou a Fundação Côa Parque nos últimos anos conduziram-na a uma situação de quase colapso, que agora nos obriga a estabelecer várias áreas de intervenção prioritária, para podermos manter e reforçar a nossa operação. Diria que são prioritárias as questões relacionadas com a segurança dos núcleos de arte rupestre abertos à visitação, mas também a reparação e renovação de frota automóvel afeta a essa atividade.

P – A instituição está paralisada há vários anos, o que é que preciso fazer para a viabilizar?

R – É preciso reconquistar a confiança de todos os agentes envolvidos nesta missão de salvaguarda, conservação, investigação, divulgação e valorização da arte rupestre e demais património arqueológico, paisagístico e cultural do Vale do Côa. É preciso fazer renascer a esperança de que a Fundação Côa Parque pode efetivamente ser um elemento agregador e amplificador da ação integrada do governo, articulada com a agenda das entidades regionais, das autarquias locais, das organizações científicas, culturais e socioprofissionais, direta ou indiretamente comprometidas com a defesa do património, da iniciativa privada e da própria comunidade, local e regional. É preciso fazer renascer esta fundação depois de um período dramático de abandono político e agonia financeira, que ameaçava comprometer a natureza da sua missão e a sua própria viabilidade institucional.

P – Tem condições para resolver os problemas financeiros da Fundação? Como vai fazer?

R – A solução que agora foi encontrada decorre de um esforço significativo da ação governativa destinado a dotar a Fundação Côa Parque dos recursos indispensáveis à prossecução da sua missão primacial. A resolução do Conselho Ministros, datada de novembro do ano passado, marcou um primeiro e decisivo momento de inversão daquela trajetória de decomposição e abatimento, sendo justo reconhecer o papel do ministro da Cultura nesse processo. Ele não apenas conseguiu reunir esforços para a correção dos graves constrangimentos financeiros desta instituição, particularmente sentidos nos anos recentes, como reanimou as sinergias geradas entre os nossos fundadores – Direção-Geral do Património Cultural, Turismo de Portugal, Agência Portuguesa do Ambiente, Associação de Municípios do Vale do Côa e Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa – juntando-lhe agora a participação da ciência, tecnologia e ensino superior, decisão particularmente feliz que permite articular as premissas iniciais deste projeto com as valiosas redes de produção de conhecimento das nossas universidades.

A gestão desses recursos, feita com o máximo escrúpulo e rigor, com um sentido estratégico, em função dos objetivos delineados, e o envolvimento da iniciativa privada, nas suas múltiplas cambiantes, concorrerá para a resolução desses constrangimentos, tornando possível uma sobrevivência mais desafogada.

P – Acha que o Vale do Côa corre mesmo o risco de entrar na lista do Património Mundial em perigo?

R – Compreendo a preocupação que vários agentes têm revelado com a fragilidade deste bem patrimonial e a reivindicação de mais vigilância para assegurar a sua segurança. É uma prioridade deste novo Conselho Diretivo encontrar as soluções mais adequadas também nessa área de intervenção. Estamos a fazer uma avaliação rigorosa da situação em que se encontra a Fundação e em breve haverá novidades. Mas acompanho o senhor ministro da Cultura quando afirma não existir qualquer risco do Parque Arqueológico do Vale do Côa vir a perder a sua classificação como Património da Humanidade.

P – Que garantias tem neste momento que o ato de vandalismo que ocorreu recentemente no Vale do Côa não se vai repetir?

R – Julgo que nenhum gestor do património pode garantir que os bens à sua guarda estão a salvo de atos de vandalismo. Podemos apostar na prevenção, podemos reforçar a vigilância, podemos limitar o acesso. Mas convenhamos que num território tão vasto, como é aquele que incorpora o Parque Arqueológico do Vale do Côa, essa tarefa é ainda mais complexa. Temos todos os cenários em análise. A possibilidade de ser reforçada a vigilância física, enquanto elemento dissuasor, é um deles. O recurso a tecnologias da videovigilância preventiva é outro. E, como também referiu o sr. ministro da Cultura, é necessário envolver a comunidade local nesse desígnio de preservação patrimonial.

P – Qual a sua estratégia para atrair mais visitantes ao Museu e ao Vale do Côa?

R – A Fundação Côa Parque tem de se assumir como entidade preponderante no processo de aproximação e congraçamento de todos os atores – nacionais, regionais e locais, públicos e privados – que queiram comprometer-se com o desígnio da preservação, conservação e valorização deste magnífico património arqueológico, histórico e natural; tem de se assumir como entidade preponderante no processo de afirmação do Parque Arqueológico do Vale do Côa e do Museu do Côa enquanto projetos culturais e científicos de referência nos panoramas nacional e internacional; e tem de se assumir como entidade preponderante no processo de afirmação de um amplo território, espaço charneira entre Trás-os-Montes e a Beira, onde pontificam outros patrimónios relevantes, como o Alto Douro Vinhateiro e o Douro Internacional, reforçando a sua consciência e coesão identitária e contribuindo, decisivamente, para o desenvolvimento económico da região, pelo aproveitamento turístico dos seus recursos endógenos. A nossa missão também passa, por isso, por fazer desta fundação um elemento agregador, que olha para o Vale do Côa como um mosaico de recursos, onde a arte pré-histórica assume uma posição preponderante, não só pela sua importância intrínseca, já reconhecida pela UNESCO, quando a classificou como património da humanidade, mas também como porta de entrada para aquela região, potenciando a valorização do restante património histórico, cultural e natural, que também merece ser descoberto pelos crescentes fluxos turísticos.

Perfil

Idade: 39 anos

Naturalidade: Coimbra

Profissão: Professor e investigador universitário

Livro preferido: “O Retrato de Dorian Grey”, de Oscar Wilde

Filme preferido: “La Meglio Gioventù”, de Marco Tullio Giordana

Hobbies: Cinema

Bruno Navarro

Sobre o autor

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