Para o caso de o leitor ter estado ausente do país ou não ter dado conta do que se passa à sua volta (por ser como Nero Wolf e não sair de casa ou ser do PCP e não sair da sede do partido), esta semana fez frio e choveu. Talvez escrever “choveu e fez frio” ficasse mais harmonioso, mas a verdade é que primeiro fez frio e depois choveu. E o leitor iria ficar desapontado se alguma vez o Observatório de Ornitorrincos faltasse à verdade cronológica dos acontecimentos. No fundo, seria como dizer que Freitas do Amaral começou à esquerda e acabou à direita. Ou que Francisco Louçã era chato e agora é irritante. É verdade, mas cronologicamente seria uma falácia. Regressemos então à meteorologia. No fim da semana passada fez muito frio, a meio desta semana choveu. Quando o leitor tiver o jornal nas mãos, é provável que ainda chova e faça frio, pelo menos na rua. Porque na sauna mista onde costuma ler o jornal talvez esteja quentinho. Mas nada disto é certo porque a meteorologia é uma ciência de probabilidades, uma espécie de astrologia das nuvens, do sol e do vento.
Tal como a sociologia se funde com outras áreas do conhecimento, dando origem, por exemplo, à psicossociologia ou à sociolinguística, também a ciência do tempo e a sabedoria dos astros beneficiariam de uma abordagem multidisciplinar que promovesse uma previsão do estado do tempo baseada nas linhas do firmamento.
Por exemplo, segundo o site astrologia.sapo.pt, os Aquários – signo de que sou, segundo consta, nativo – “não são da Terra, são de outro planeta”, “não são como nós, são estranhos” e “gostam assim”. Primeiro, gostaria de dizer que não sou de outro planeta, embora as orelhas em forma de antena parabólica e o nariz tipo antena de rádio já tenha trazido desconfiados os tipos do SETI. Segundo, não somos como quem? Como os gajos que escrevem aquelas bacoradas ou como os pategos que lêem aquilo e acreditam? Terceiro, nascer entre 21 de Janeiro e 19 de Fevereiro torna um gajo estranho, porque mal nasce – lá está – apanha logo um frio do caraças. Finalmente, gostamos assim e de todas as maneiras, mas segundo consta, até os bichinhos gostam.
Ora, à luz da nova ciência que proponho, a meteorastrologia, descobriríamos que os nativos de Aquário “são esquisitos” (continuo a citar da página do Sapo) porque costumam criar um anticiclone (que pode ser dos Açores ou de qualquer outra região periférica, como os ombros) e dar origem a uma frente fria. A produção de cumulonimbos está normalmente associada à sua propensão para serem “cabeças no ar”, enquanto os aguaceiros frequentes e queda de neve nas terras altas se deve às correntes do Atlântico Norte e a “serem injustamente acusados de serem malucos” – injustamente, estão a ver, senhores da camisa-de-forças que me foram buscar? (Por falar nisso, agora que vem a propósito, acham que já me podem tirar desta jaula? Está a chegar a data da minha coroação e não me dava jeito nenhum faltar.)
Como é possível ver, um entendimento alargado entre a astrologia e a meteorologia poderia ser bastante proveitoso para o entendimento da nossa personalidade, bem como os cuidados a ter no quotidiano. Depois de pesquisa prolongada – 25 a 30 segundos – consegui traçar as previsões meteorastrológicas para a minha vida na próxima semana:
“O nativo de Aquário deverá ter cuidado com o acentuado arrefecimento nocturno e as ondas de metro e meio na costa ocidental. Será uma semana propícia para trabalhar e para chuviscos no sistema montanhoso Montejunto-Estrela. No amor, uma aproximação de alguém conhecido e uma leve brisa de Nor-Noroeste. As baixas pressões atmosféricas aconselham a precauções financeiras. Números da sorte: 3, 6, 8 e 15º Celsius.”
Boa semana.