Arquivo

O sexo daquele anjo

Bilhete Postal

A “bonitesa” é algo muito controverso, não é como a beleza. A “bonitesa” é o bonito para mim, é “lindo bué”. Não sei explicar o que é mas sabemos ambos que confrange, que amedronta, que inibe. Olhar para uma pessoa linda e perceber que se quer, fascina por dentro, mói a serenidade e inquieta as pupilas que se tornam vadias nos olhos. O Serafim tinha essa loucura pela Filomena. Era a “bonitesa”, a forma voluptuosa, os redondos nos lugares onde seu desejo se endireita, o sorriso afável a dizer que entre, o convite amável a chegar-se perto. Serafim derretia-se quando chegava a Filomena. Um dia foi mais afoito e a Filo deixou. Outro dia tocou-lhe na mão e ficou inquieto durante três dias. Mais à frente tentou. Ela deixou e trocaram um pouco de saliva, despiram os casacos e ficaram por ali. Um dia com o “grão na asa” aventurou-se e levou-a no carro. Pararam frente ao motel. Saíram os dois mas ela voltou a entrar. Percebeu depressa o que a levara ali.

– Devíamos namorar mais – disse-lhe Filomena.

– Eu só penso em ti! – respondeu Serafim.

– Devias ter perguntado mais sobre mim! – Filomena a olhar fixamente.

– Sei o que quero e sei que sou um tímido e hoje bebi um pouco para tentar. – confessou.

Serafim ficou então a saber que Filomena não nascera mulher. Espantado corou e ela pediu para irem embora. Depois soube que Filomena não era ainda mulher, nunca fizera transformações para o ser. A cara nervosa levou Filomena a pedir para se irem embora.

– Não quero que te zangues –, disse lembrando cenas anteriores que lhe provocavam medo.

– Bem, disse Serafim, após um longo silêncio. Sei lá o que vai ser de mim! Pegou-lhe pela mão e foram ser um só. O sexo do anjo era homem.

Por: Diogo Cabrita

Sobre o autor

Leave a Reply