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O regresso do IP5

Editorial

1. Um mês após a introdução das famigeradas portagens nas scuts, as consequências começam a fazer-se sentir: o dia-a-dia de muitos cidadãos foi onerado, a mobilidade diminuiu pelo acréscimo de custos, a economia regional ressente-se com os custos de transportes, as empresas ameaçam partir e as velhas estradas voltam a ter carros. Muitos. O IP5 é apenas um exemplo: entre o Alvendre e o vale do Mondego, estava completamente votada ao abandono, com lixo, arbustos e pavimento com ervas por entre as fissuras (e, estranhamente, com a zona de descanso do Alvendre encerrada e com os sanitários demolidos. É incompreensível que não sejam reabertos). Agora, volta a ter carros e camiões a percorrer aquela estrada que muitos gostariam de esquecer pelas memórias tristes, com lágrimas e sangue, que encerra.

Viajar para Celorico da Beira sai mais barato utilizando o IP5, a partir do Alvendre (e vice-versa). E pode ir-se para o IP2 de forma gratuita (ou seja, pode viajar da Guarda, pelo Alvendre, para Trancoso sem pagar portagem).

Curiosamente, quem também regressou ao IP5 foi a GNR, fazendo recordar a mais intolerante e persecutória vigilância conhecida no país: a “Tolerância Zero” (que incluía helicópteros de controlo e perseguição para quem conduzisse a mais de 90km/h). Ao recordar o IP5, o seu percurso sinuoso, a sua sinistralidade – os seus ferido e mortos -, recordamos também uma das principais razões que levou à decisão da construção da A25: a segurança, a redução de acidentes.

As autoestradas chegaram para nos aproximar, para promover a coesão territorial e ainda mais a coesão social. Esta coesão foi amputada pelas portagens. O látego que vergastou o Interior há um mês já está a ter consequências, mas a fatura a doer ainda não chegou, vai chegar durante o ano, este e os próximos, quando as borlas e os descontos (a que chamaram de “discriminação positiva”) acabarem.

Entretanto, enquanto recordamos a imagem funesta e perturbadora no nosso álbum de memórias, convém recordar também que, em Maio de 2005, o Governo de José Sócrates aumentou os impostos sobres os produtos petrolíferos para financiar as Scuts. Aliás, essa foi uma das primeiras opções de Sócrates, quando chegou ao Governo, para mudar o estado das contas públicas, apresentou no Parlamento um pacote de medidas urgentes que incluíam o aumento em 2,5 cêntimos os combustíveis (sendo essa verba destinada a pagar os custos das scuts) e o acréscimos de imposto sobre o tabaco, destinando a baixar o défice da Saúde…

Sete anos depois… o défice na Saúde cresceu. Sete anos depois… passámos a pagar as autoestradas, cuja construção já tinha sido financiada por fundos europeus de coesão e que já estávamos a pagar com um imposto extra de 2,5 cêntimos por litro de gasolina e gasóleo. Como não temos líderes que nos defendam, o Interior «paga e não bufa»…

2. O desemprego é de fato uma chaga destes tempos de crise. Toda a gente vive perturbada com a possibilidade de perder o trabalho. E ainda mais aqueles que não o têm e sentem dificuldades em arranjar emprego. E os que já o tiveram e o perderam, não só não conseguem voltar a trabalhar, como veem como perdem direitos sociais e aprendem a conviver com o desespero de não ter como pagar as contas.

Mas a chaga do desemprego cresce por todo o lado. E é nas novas gerações que é mais preocupante. Os mais jovens são a geração da precariedade, dos 500 euros e também do desemprego. E não vale a pena fazer chalaça sobre a opção de emigrar, que faz sentido, porque o problema é que noutros países também não há trabalho. Em Espanha, em cada dois jovens com menos de 25 anos, um está desempregado. Em Portugal ainda não é assim, mas para lá caminha.

Luis Baptista-Martins

Comentários dos nossos leitores
A. Sequeira antoniosequeira1966@gmail.com
Comentário:
Tudo isto já nos sabemos. O importante, agora, era haver ideias claras, objetivas e exequiveis para resolvermos este verdadeiro enclave. Aprecio a ideia do franchising do pastel de nata.
 

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