Arquivo

O PS na encruzilhada

Agora Digo Eu

A política é uma arte. Uma nobre arte onde devem estar permanentemente presentes a nobreza, a firmeza, a ética e a moral. Aristóteles definia-a como «uma espécie de saber de que nem a sensibilidade nem a imaginação podem estar ausentes». A política é a ciência de saber dar felicidade ao povo, pese embora se transforme num jogo, jogo esse que é, sem sombra de dúvidas, o mais apaixonante de todos.

Mas, como todos os jogos, tem obrigações, condutas e regras onde não cabe tudo, onde não vale tudo e nem o recurso a velhos comportamentos e práticas, fazendo uso do matreiro discurso de dizer coisas diferentes no mesmo lugar ou coisas iguais em lugares diferentes, consegue, em definitivo, tornar-se ou ser elemento decisório de todos os cálculos.

A cristalização dos partidos deve-se sobretudo a um autoconvencimento que afasta a grande maioria da população da defesa da causa pública e na participação onde marcam presença “boy’s” e “girl’s” à espera da migalha que o poder sempre produz. No revés da medalha dizer mal dos políticos é uma forma deveras interessante de descarregar o que nos vai na alma, tendo a conversa da treta êxito garantido.

Quando a causa bolchevique é traída, desacreditam-se todos os estalinistas, restando assim manhosos “apparatchiks”, cuidadosos fiéis, defensores de um “apparat” de bastidores, esquisito, intriguista e seguidista, detentores evidentes da célebre ordem de mérito evidente (ontem metiam o socialismo na gaveta, hoje são militantes socialistas, de esquerda, republicanos e assumidamente laicos), com um discurso próximo ao de púlpito, do mais alinhado possível (não vá o diabo tecê-las), desviando atenções, apostando tudo no salvador da pátria, ainda em apuros. Lá dizia Ortega e Gassett: «Cada um sente-se ligado à sua circunstância».

A História faz-se tendo por base eventos, testemunhos e pergaminhos. No PS é agora necessário revisitar a História, rever as pequenas historias, olhar para as historietas, ver diariamente os episódios para contar a História que ainda não souberam ou não nos quiseram contar.

Neste carnaval rosáceo, sem hora e data marcada, percebe-se a incapacidade de enterrar os fantasmas do passado, ao tentar lamber as próprias feridas, de todos os feridos do vendaval e da catástrofe que os assolou e da guerra fratricida que se seguiu.

O PS/Guarda assemelha-se a uma casa onde todos os alicerces foram arrancados. «Os muros fendem-se, os pavimentos desnivelam-se, as padieiras desaprumam-se, as soleiras racham, os estuques abarrigam, os travejamentos rangem e alguns dos inquilinos fogem com medo da derrocada total». Os destroços e os cacos são tantos que nem a cola instantânea da loja chinesa ou a supercola de um hiper qualquer conseguirão fazer milagres. Lá diz o sábio saber popular que «nos outros (partidos) estão os adversários. No “nosso” estão os inimigos».

Estamos em pleno campeonato europeu de futebol. O Regulamento Disciplinar da Liga sanciona nos artigos 76º e 77º a falta de comparência nos jogos, declarando, no caso do abandono de campo, falta de comparência e cumplicidade na falta de comparência, vencedor o clube que foi a jogo, que permaneceu em campo, por um expressivo 5-0.

António Saraiva é indiscutivelmente o Presidente do PS e a abertura da arca de todos os males trouxe ao de cima guerras maldizentes, entre o ódio e o desdém, entre o sujo e o nojento, deixando que a festilândia laranja prossiga e progrida a seu bel-prazer, onde apenas a voz isolada de Joaquim Carreira se ouve, fazendo tenuemente lembrar que ainda existe um pequenino foco de oposição.

Entre pássaros, passarinhos, aves de rapinas, palmípedes, galináceos, corredoras, velhas e velhos maliciosos, seria importante que os novos rosáceos assumissem outras posturas nessa descrição tão bem definida por Savater em “Ética para um jovem”. E aqui chegados, de duas uma: ou o PS assume o passado, assenta e pacifica as hostes do presente, cria estratégia e credibilidade para o futuro ou fica distraído a olhar para o seu próprio umbigo, entretido em lamber as múltiplas feridas de um corpo efetivamente doente e maltratado, permanecendo estacionado na indefinição da encruzilhada do caminho sem rumo e sem destino.

Por: Albino Bárbara

Comentários dos nossos leitores
anonimo anonimo@hotmail.com
Comentário:
Pobre PS, quem te viu e quem te vê! Mas Sr. Albino, sendo o senhor da mesma cor política, porque não ajuda a puxar a carroça. Criticar é fácil, colaborar é mais complicado…
 

Sobre o autor

Leave a Reply