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O ouro dos árabes

sinais do tempo

A discussão assenta em diversas premissas todas elas interdependentes.

O ouro negro atingiu preços (demasiado) elevados nos mercados internacionais e Portugal não tem poços de petróleo ou de gás natural.

A utilização de energias alternativas tem implicado um investimento elevado e demasiado lento, com problemas ambientais relevantes.

Toda a nossa indústria e a maioria dos meios de comunicação dependem dos derivados do petróleo e Portugal importa 86,2 por cento dos combustíveis fósseis utilizados.

Os investimentos realizados e a realizar têm privilegiado as grandes auto-estradas, levando-nos a pensar que não há outras vias alternativas.

Com tanta premissa como resolver o problema? E o que esperar da nossa economia?

Que projectos alternativos foram desenhados nos últimos vinte anos em Portugal para evitar esta situação de total dependência?

Em Serpa foi iniciada no dia 6 deste mês, a construção da maior central de produção de energia a partir dos raios solares, provavelmente mais rentável que qualquer plantação de algodão ou de trigo.

Nas nossas serras já vamos observando as hélices gigantes que, pela acção do vento, irão produzir electricidade. Contudo em alguns casos o processo de instalação demorou mais de quatro anos. Como será de calcular estas “ventoinhas” gigantes não são isentas de controvérsias do ponto de vista ecológico.

Quanto à energia obtida das hidro-eléctricas já percebemos que o investimento naturalmente estagnou e centra-se em algumas mini-hidricas.

Se a floresta ainda cobre cerca de 38 por cento do território nacional (após os incêndios do ano passado a percentagem deve ter diminuído francamente), a biomassa sólida deveria então representar uma fonte de energia importante. Enganem-se, porque de momento o único investimento existente é em Mortágua. Mais uma vez a ausência de uma politica de recolha apropriado e uma falta de tratamento fiscal adequado (a lenha está sujeita a uma taxa de IVA. de 21 por cento, ao contrário de outras fontes como o gás natural), além da falta de esclarecimento junto dos proprietários florestais e dos comerciantes da indústria da madeira.

O Biogás na sua maioria provém de explorações de suinicultura e representa 3 por cento do consumo energético nacional. Mas o investimento tem uma amortização difícil.

No que respeita à utilização dos bio-combustíveis líquidos em Portugal, apenas existem alguns projectos de utilização do Biodiesel ou Bioetanol, sendo exemplo alguns autocarros lisboetas, no entanto a percentagem de Biodiesel utilizada não vai além dos conservadores 10 por cento. As razões mais uma vez têm a ver com o preço das matérias-primas, do seu transporte e da falta de produção agrícolas.

A energia nuclear continua a levantar problemas de segurança e por muito que se evolua ficará sempre o problema futuro do desmantelamento.

O problema não é de fácil resolução e quanto mais nos debruçamos sobre ele mais verificamos a dificuldade em resolvê-lo.

Esperávamos dos nossos políticos uma maior intervenção e sensibilização, nomeadamente na restrição do consumo. Esperávamos também que os investimentos em auto estradas ou comboios de alta velocidade se aplicasse em novas linhas ferroviárias. Sabiam que a linha de Sintra tem um projecto de quadruplicação de 14 quilómetros, com 20 anos de existência? Agora pensem no fluxo de automóveis na linha rodoviária Sintra – Lisboa e nos barris de petróleo consumidos diariamente. Em Lisboa o recurso ao transporte individual subiu 77 por cento entre 1991 e 2001. Sabiam que Viseu é a maior cidade europeia sem estação do caminho-de-ferro? Já pensaram que o transporte mais adequado de cargas de e para o resto da Europa devia privilegiar o comboio retirando da IP5 (e dos nossos bairros) os milhares de pesados que nela circulam?

Pelo contrário, acreditou-se que investir em 2000 quilómetros de auto-estradas seria a única forma de melhorar as acessibilidades. Mas se por auto-estrada eu chego mais rápido ao destino, no final da viagem verifico uma carteira menos recheada e pelo caminho libertei uma elevada taxa poluente.

Outra realidade é que o número de automóveis aumentou. Em contrapartida a mobilidade pedonal ou ciclista diminui nas cidades, nomeadamente na Guarda, em que apesar das irregularidades do relevo, nunca se criou uma cultura nas zonas mais planas para que os alunos das nossas escolas se mobilizassem em segurança a partir das suas residências. A única ciclovia, instalada em S. Miguel, não tem saída para lado nenhum e além de momentos de lazer não serve para mais nada. Os passeios de forma geral são estreitos, irregulares, interrompidos em zonas em que não há construção ou inexistentes. Não se instituiu até agora uma politica de sensibilização das populações que os recursos fósseis são escassos, pelo contrário estimula-se o consumo porque os accionistas da Galp agradecem e o Estado também.

Diminuir a nossa dependência do petróleo, implica diminuir a nossa dependência em relação aos árabes e quem sabe diminuir a instabilidade do médio oriente, empobrecendo-os, claro.

Por: João Santiago Correia

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