Arquivo

O maior coleccionador do país

José Duarte de Oliveira tem mais de 200 mil objectos numa Casa Museu em Santa Maria, na Covilhã

Diz que é o maior coleccionador do país. O estatuto não está oficialmente reconhecido, mas a verdade é que os números da colecção de José Duarte de Oliveira, de 80 anos, impressionam.

Já lá vão 16 anos desde que abriram as portas da “Sala de Exposições Rosa Teresa de Oliveira”, numa das ruelas de Santa Maria, na Covilhã, junto às Portas do Sol. É em pleno centro histórico que o coleccionador passa a maioria do tempo, numa casa museu de duas divisões onde organiza as suas peças. As paredes estão “forradas” de alto abaixo com inúmeras prateleiras, todas elas repletas dos objectos que guarda, religiosamente. Um hobbie que cultiva desde 1966. Os “pin’s” e os lápis de pau foram os primeiros objectos que angariou e recorda, enquanto circula pelo espaço para mostrar tudo, que a sua entrada neste mundo – «um vício» – aconteceu de forma sui generis: «Fiz um negócio, em Lisboa, em que trocava latas de tinta de 20 litros por “pin’s” de todo o tipo», adianta. Cada lata rendeu-lhe 15 “pin’s”. Hoje, são mais de quatro mil, entre eles, um de ouro, o mais valioso.

A estas peças juntaram-se outras. José Duarte de Oliveira tem hoje 112 mil calendários, 22 mil postais ilustrados, mais de 9 mil esferográficas, 8.233 isqueiros (catalogados por locais de origem) e quase 10.500 porta-chaves. A estas colecções juntam-se mais de 2.500 lápis de pau, quase 2 mil latas, 1.200 chávenas (a sua colecção preferida), 263 medalhas, 430 galhardetes, 200 taças, 279 garrafas e mais de 2.700 selos. Apesar deste número impressionante, esteve 27 anos sem coleccionar por não ter onde guardar «tantas coisas». Recomeçou assim que conseguiu um espaço – onde ainda se mantém – para expor o seu espólio. A partir daí, o vício ganhou asas em definitivo. «Nunca mais parei, já corri Portugal de lés a lés em feiras», garante, confessando que, actualmente, a idade já pesa e não se desloca a eventos de coleccionismo com a mesma frequência. Mas, devido à fama granjeada, agora é visitado assiduamente por coleccionadores de todo o país.

Do futebol à columbofilia

«Eu troco tudo, é o que vier», apregoa, antes de chamar a atenção para o princípio maior do coleccionismo: «Nada se vende, nada se compra, tudo se troca». No entanto, coleccionar é para este homem mais do que um hobbie. «É como que uma actividade cultural que me permite guardar as memórias de diferentes épocas, locais ou culturas. Através dos objectos é possível fazer viagens surpreendentes», garante. Assim, todos os dias, menos ao domingo, a sala de exposições está aberta ao público, na Rua Baptista Leitão, para quem quiser embarcar. Por lá estão também expostas preciosidades muito pessoais, entre as quais 188 taças que conquistou graças à sua outra paixão: a columbofilia. É que José Duarte de Oliveira foi um dos seis fundadores – quatro dos quais já faleceram – da Sociedade Columbófila da Covilhã, em 1957.

Há também algumas recordações dos seus tempos de jogador da bola nos anos 40, no extinto Futebol Clube dos Covilhanenses, como as primeiras chuteiras. Cuidar desta imensa panóplia de memórias faz agora parte da sua vida diária. «Estou aqui todos os dias, há sempre muito para fazer», refere , sublinhando com uma convicção quase tão grande como a sua colecção que parar não está nos seus planos: «Agora só desisto quando morrer».

Rosa Ramos

Sobre o autor

Leave a Reply