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O hábito faz o monge

Para inverter falta de padres, ainda há jovens que abandonam a rotina diária para ingressar no seminário

Luís Freire entrou este ano para o Seminário da Guarda. Está no primeiro ano de Teologia após terminar a licenciatura em Língua e Cultura Portuguesas, na Universidade da Beira Interior. É um dos dezassete seminaristas que frequentam o Seminário e que poderá contribuir para atenuar a escassez de padres na Diocese, mas daqui por algum tempo. Agora, tem seis anos de estudo e muita oração pela frente.

«Estive até ao último dia para decidir, porque é uma mudança de hábitos muito grande, mas acabei por vir a 29 de Setembro», recorda Luís Freire, 25 anos, natural da Covilhã. «Sinto que estou cá para tentar concluir um projecto e vamos lá ver se consigo!», exclama o seminarista, para quem não há certezas quando se inicia algo. «Quando entrei para a universidade pensei que seria professor de português, já experimentei e gostei muito. Mas quando se tem fé, pretendemos ir mais longe e vem-se para o seminário à procura de se ser padre, mas não há certezas de o conseguirmos ser», confessa. Contudo, esta é uma velha ambição, apesar da decisão tardia, pois Luís Freire já tinha pensado na possibilidade quando era mais novo, mas depois acabou por fazer o percurso ordinário no ensino secundário público e mais tarde na universidade. Paralelamente, ainda frequentou o pré-seminário, para além das actividades ligadas à sua paróquia, como catecista e animador do grupo de jovens. Só que o chamamento voltou quando frequentava o terceiro ano da faculdade: «Na minha turma havia uma freira que veio de Angola e eu falava muito com ela sobre esta minha vontade. Foi ela quem acabou por incentivar-me», recorda.

Por isso, terminada a licenciatura, falou com o padre da sua paróquia, pois sentia «um chamamento e uma força para me entregar», refere, e no final do estágio entrou para o seminário. «Há uma frase muito bonita de S. Vicente de Paulo que consegue traduzir a minha decisão: “Não me basta amar o Pai se o meu próximo não ama”», cita Luís Freire a propósito da sua vocação. Entretanto, como está inscrito no Centro de Emprego, porque seguiu os trâmites legais quando terminou o curso, tem recebido «várias propostas» que não pode aceitar, lastima o seminarista. «Lá fora construímos uma vida pessoal, aqui temos que construir uma vida em comunidade», adianta o jovem acerca dos novos hábitos, sendo que o mais difícil nesta nova rotina foi o ter que acordar cedo, mas também o facto de haver «regras e horas para tudo». Por isso, o início foi mais complicado, «mas agora já estou habituado», garante, tanto mais que o acolhimento no seminário ajudou à integração e «os medos que trouxe na bagagem começam a desaparecer», revela. Apesar da forte convicção, Luís Freire considera mesmo que há actualmente uma «crise de vocação», isto, olhando para o número de seminaristas que estão a frequentar o seminário da Guarda: «Nos próximos dez anos, teremos, no mínimo, 17 novos padres», contabiliza o jovem, mas tudo depende de do crescimento e das certezas de cada um.

Patrícia Correia

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