P – Qual é o objetivo do município na organização do Festival Económico da Mêda, que começa no dia 13?
R – Sabemos que uma forma de divulgarmos e dinamizarmos o nosso concelho é, sem dúvida, através da promoção de atividades a nível cultural, desportiva e económica para podermos atrair visitantes à Mêda. Temos algumas iniciativas de referência, como provas de BTT, algumas das quais de nível internacional, e o que nos agrada é vermos todos esses atletas de alta competição encantados com o que veem no concelho em termos de trilhos e paisagens relativamente a outras provas. Por isso, esta modalidade pode ser uma aposta para trazer as pessoas e dar a conhecer o município. Temos também a feira medieval de Marialva, uma das mais antigas do distrito, realizada anualmente no excelente cenário daquela Aldeia Histórica. No âmbito da música realiza-se o festival Mêda +, que já é uma referência nacional e traz em julho milhares de jovens à nossa cidade. Já este Festival Económico tem como objetivo promover e divulgar aquilo que de melhor temos nos produtos endógenos e dinamizar este setor importante da economia local.
P – No fundo, trata-se de fazer a ponte entre os produtores e os consumidores para que os visitantes do certame possam conhecer, provar e adquirir esses produtos locais?
R – Exatamente. Vamos ter representados os nossos produtos de excelência.
P – E qual o impacto que esta atividade tem na dinamização social e económica do concelho?
R – Tem um impacto bastante forte. Além de divulgarmos os nossos produtos, dinamizamos também a restauração local com a vinda de visitantes e, logo, promovemos também a nossa gastronomia.
P – Quais são os produtos de referência da Mêda, em que o concelho é bom no que faz?
R – Temos excelentes vinhos – na minha opinião, dos melhores a nível nacional. Como sabe, uma parte do concelho é Região Demarcada do Douro e aí temos excelentes vitivinicultores e produtores e é uma aposta que estamos a fazer no município porque há muitos jovens que estão a apostar na produção com uma marca própria e vinho de grande qualidade. Na Mêda produz-se também azeite de excelente qualidade e neste setor há igualmente jovens empresários a apostar no engarrafamento e comercialização de marcas próprias. Além destes, temos a castanha, a amêndoa e o mel, sem esquecer a própria natureza e o património histórico-cultural e natural que temos.
P – Há alguma razão para que o Festival Económico se realize nestas datas de pós-São Martinho?
R – A data está ligada ao feriado municipal, que comemoramos no dia 11. Talvez não seja o momento mais aconselhável devido ao clima que se faz sentir nesta altura do ano, mas há essa tradição de associar o evento a uma data importante do município. No entanto, já pensámos mudar este festival para a altura das vindimas, em meados de outubro, porque o vinho é um setor muito relevante no concelho, mas por enquanto a data será esta.
P – Quantos expositores estão inscritos e o que se pode encontrar no pavilhão gimnodesportivo durante o evento?
R – Inscreveram-se cerca de 120 expositores. Como a feira decorre nesse espaço, só temos capacidade para receber 90 stands, a que se juntam mais uma dezena no exterior com maquinaria agrícola, viaturas e outras atividades de ar livre. Nesta edição vamos encontrar vinho, azeite, mel, enchidos, queijo, castanhas, doçaria regional, licores, ou seja, tudo aquilo que são os produtos da terra e que caracterizam um pouco o concelho da Mêda. Também estarão representados empresários locais para divulgar os seus serviços e marcas, como jardinagem, eletrodomésticos, aquecimento, móveis, seguros e ferragens, entre outros.
P – O que ficou de fora? A autarquia pondera aumentar o espaço expositivo para próximas edições?
R – Neste momento já não estamos a aceitar mais inscrições por falta de capacidade para albergarmos mais expositores. No futuro estamos a pensar seriamente alargar o espaço expositivo porque a procura tem sido bastante grande e também nos interessa trazer produtores de fora porque será uma mais-valia para o certame. No entanto, tal ainda não é possível devido aos gastos, que também é uma preocupação nossa.
P – Acha que faz sentido ter uma área específica para este tipo de atividades na Mêda?
R – É importante pensarmos seriamente nessa possibilidade ou então, talvez, alugar uma tenda para colocar mais expositores e possamos ter capacidade para mais participantes. Como disse, a procura cresceu relativamente à primeira edição.
P – O que muda em relação à primeira edição, realizada no ano passado?
R – Tentámos melhorar alguns aspetos logísticos e alargar o espaço mais um bocadinho. Ainda não há uma diferença muito acentuada de um ano para o outro, pois o espaço é o mesmo, mas o objetivo será alargar o recinto porque poderíamos ter outra diversidade de expositores e produtos. Temos essa ambição de fazer crescer o Festival Económico da Mêda, que pode ser uma marca do nosso concelho.
P – Já falámos dos produtos de referência da Mêda. O que tem feito a autarquia para a sua promoção?
R – Há um interesse muito grande da autarquia em promover os nossos produtos. Temos apoiado a participação dos nossos produtores em vários eventos, nomeadamente na Ecoraia, que decorreu em Salamanca no ano passado. Pagámos o transporte e a estadia de vários produtores de vinho, castanha e azeite para que pudessem estar presentes nessa feira e divulgassem os seus produtos. É uma forma de os ajudar a desenvolver os seus negócios e, indiretamente, também a Mêda. A Câmara tem todo o interesse em apoiar os nossos empresários porque temos consciência que só assim eles poderão dar continuidade e fazerem crescer os seus negócios. E temo-lo feito também com produtores que estiveram na Expofacic, em Cantanhede, e na BTL, em Lisboa.
P – O concelho está situado entre o Douro e a Serra da Estrela, as duas grandes marcas turísticas da região, isso é uma vantagem ou uma desvantagem em termos da atratividade?
R – À primeira vista poderia pensar-se que será mais uma desvantagem, pois não estamos num lado nem no outro. Mas nós, os políticos, deveremos saber tirar partido daquilo que de bom têm a Serra e o Douro, e isso poderá ser uma mais-valia para nós.
P – Qual é a estratégia do município para aproveitar esta localização a meio caminho entre os destinos turísticos mais procurados na região?
R – É importante estabelecer parcerias com agentes de viagens para promover roteiros turísticos locais e, ao mesmo tempo, executar parcerias com rotas turísticas existentes, além de criar um plano turístico regional onde, de forma simples e coordenada, seja identificado e localizado todo o nosso potencial e o riquíssimo património que temos, da Aldeia Histórica de Marialva ao polo termal de Longroiva, passando pelo Vale do Mouro, os trilhos, as paisagens, etc. Temos ainda um grande potencial a nível do turismo cinegético, já que talvez tenhamos na Mêda a maior reserva de caça onde se realizam as grandes montarias a nível nacional. Aliás, um dos maiores clubes de caça do país está aqui sediado, cujo presidente já me informou que vai estabelecer um protocolo com clubes espanhóis vizinhos para se organizarem atividades aqui na Mêda. Atualmente há muitos caçadores espanhóis nas nossas montarias.
P – Há também o IP2, que “aproximou” o concelho do Douro, da Serra da Estrela e de qualquer outro destino. Foi uma obra que “desencravou” a Mêda.
R – Sem dúvida. O melhoramento da rede rodoviária foi uma mais-valia para o concelho e, hoje, é mais um contributo para tirarmos partido das potencialidades da Serra da Estrela e também da riqueza que o Douro tem. Os pequenos municípios devem trabalhar em parceria, hoje mais do que nunca, e devemos saber criar sinergias de roteiros para que quem chegue a Pinhel possa visitar património na Mêda ou em Figueira de Castelo Rodrigo, por exemplo. A criação desse tipo de sinergias já está a ser uma preocupação destes três municípios, por exemplo, no campo desportivo com a organização de vários torneios internacionais de andebol.
P – O concelho conta com inúmeros espaços de turismo de habitação e de turismo rural. Atualmente, está em construção um hotel em Longroiva. Para quando a sua abertura.
R – Nesta área temos do melhor que há a nível nacional e até internacional, que são as Casas do Côro, em Marialva, que são uma referência. Quanto à falta de um hotel, ela está à beira de ser colmatada com a unidade de quatro estrelas que está praticamente concluída e deverá ser inaugurada brevemente. É um hotel termal com capacidade para 50 camas, creio, e que dotará o município com um equipamento ao nível dos melhores no país com um projeto de vanguarda que não vai deixar ninguém indiferente. Esse hotel vem colmatar uma lacuna nesta região e que também vai potencializar as termas. Estou convencido que, no futuro, Longroiva poderá ser também um polo de desenvolvimento do concelho, pois estão criadas todas as condições para que isso aconteça.
P – Ou seja, o eixo Mêda-Longroiva poderá ser o eixo de desenvolvimento do concelho?
R – Não tenho dúvidas que poderá ser uma âncora de desenvolvimento, mas faltava ali o hotel para potenciar ainda mais as termas, que são recomendadas para o tratamento de várias doenças. Com esta unidade, estou convencido que virá muito mais gente. Trata-se de um investimento privado, da ordem dos 5 milhões de euros, de uma empresa da Mêda, a Natura SA, de José Amado.
P – Temos a ideia que na Mêda há pouca vida empresarial, no entanto, quando chegamos aqui vemos que o parque industrial está ocupado com muitas pequenas empresas. O município tem novos projetos nesta área?
R – Um dos nossos objetivos é reestruturar, ou ampliar ou requalificar a nossa zona industrial porque aquela está ultrapassada e já não temos capacidade para acolher mais empresas. Atualmente há uma necessidade muito grande de ampliar aquele espaço e é um projeto que este executivo quer concretizar. Já tivemos o projeto de requalificação feito só que a candidatura não foi aprovada no último quadro comunitário. Esperamos que possa avançar através do “Portugal 2020” porque é importante e faz falta ao concelho da Mêda. Aliás, uma das nossas ideias é lançar ali uma pequena incubadora agroalimentar que possa absorver os produtos dos nossos pequenos agricultores para os comercializar.
P – Como está a valorização das ruínas romanas do Vale do Mouro, na Coriscada? Há alguma coisa pensada para o sítio?
R – O Vale do Mouro não está esquecido, pois temos consciência que, bem explorado, poderá ser também uma mais-valia para o concelho porque temos ali uma pequena Conimbriga. Até agora temos apoiado as escavações que têm sido feitas no local e há um projeto de musealização com os achados e a história desta villa romana para atrair visitantes. Já ali foram descobertas milhares de moedas e um painel com a figura de Baco que está a ser restaurado em Conimbriga.
P – Relativamente ao tribunal, a Mêda foi uma das comarcas que desapareceu com a reforma judicial. Neste momento o edifício estará praticamente desocupado, o que vai propor ao Governo para ocupar aquele espaço?
R – O encerramento do tribunal foi como que uma “facada” no nosso concelho, pois, quando os autarcas tudo fazem para atrair empresas e gente, é o próprio Governo que fecha serviços dando a entender aos empresários que não vale a pena vir para aqui. Acho que o Governo devia ter uma visão diferente desta região interior se quer que estes pequenos concelhos continuem a ter alguma vida. Temos um excelente edifício, talvez dos melhores que se fizeram no distrito da Guarda, e queremos dar-lhe alguma utilização. Nesse sentido, vamos ter ali a funcionar os serviços do Espaço do Cidadão, já contratualizados com a Secretaria de Estado, como também a Loja do Cidadão para centralizar ali serviços como Finanças, Segurança Social e do Ministério da Agricultura, por exemplo. Ainda sobra algum espaço no primeiro andar que não queremos ocupar porque ainda tenho esperança que o tribunal possa reabrir.
P – No caso de haver um Governo liderado por António Costa, essa será uma das suas primeiras reivindicações?
R – Não tenha dúvida que vai ser. Não foi por uma questão económica que fecharam o tribunal, porque o edifício é do Estado, tínhamos um juiz itinerante que passava por aqui dois ou três dias… Na altura, disse à ministra que a Câmara estava disponível para pagar a luz, a água e os funcionários se fosse necessário para evitar o fecho, pois o que queríamos era assegurar a permanência desse serviço porque a nossa população é maioritariamente idosa e não vai facilmente a Vila Nova de Foz Côa, até porque os transportes também são bastante deficitários.