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O Curriculum Vitae

Saliências

Entreguei os documentos e os curricula para o concurso de consultor em cirurgia geral. Um título que está em discussão uma vez que as carreiras médicas estão profundamente baralhadas. A construção de um curriculum é um momento doce e amargo. Vemos o nosso envelhecimento, mexemos nele, tentamos arrumar a sua existência e temos oportunidade de uma retrospectiva dos anos últimos. Não sei se fiquei contente, mas como cirurgião gostava de ter sido muito mais. Gostava de ter tido mais e melhores oportunidades, ter privado com os melhores, com a excelência. Concluo que a vida é filha de contingências independentes do nosso desejo. Eu gostava, mas os melhores não foram mais que passagens curtas no meu percurso. Os lugares e suas idiossincrasias faziam mais pelas instituições do que toda a minha ausência de timidez, ou de vergonha, ou mesmo de descrição. Lideram pessoas discutíveis, traçam caminhos inexplicáveis, definem estratégias impensáveis e desse modo somos manipulados por uma engrenagem poderosa. Os investimentos pessoais na excelência são pequenos, os directores com capacidade técnica e científica contam-se pelos dedos. Gostava de ter sido muito mais e melhor na idade em que estou. Conheço alguns que na mesma idade são francamente melhores que eu e isso afecta-me. Não se trata de inveja, mas de pena. Eu palmilhei várias hipóteses de evoluir e não fui feliz. Claro que melhorei sempre, que fui maturando conhecimentos e senso, mas as habilidades, o desempenho precisavam ter tido mais mestres. É um momento interessante, reencontrar-me comigo num livro de documentos e memórias.

Por: Diogo Cabrita

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