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O consumo de bolota na Pré-História

Nos Cantos do Património

Como vimos no texto anterior (edição n.º 238) os vestígios da pequena aldeia Pré-histórica encontrados na Malhada, em Fornos de Algodres, vieram ampliar o conhecimento sobre a importância do carvalho, nomeadamente com a utilização da bolota, em períodos recuados da história humana na Beira. Nas diversas intervenções arqueológicas realizadas neste significativo povoado Pré-histórico os arqueólogos puderam estudar uma área de torrefacção e moagem de bolota, associada a diversas pedras de moinho em granito do tipo sela ou de vaivém no interior de uma cabana. Essas pedras de moinho têm uma das faces muito polida devido ao movimento de vaivém imposto durante o trabalho de moagem da bolota ou do cereal. No registo arqueológico apenas se reconheceu um alinhamento semi-circular de pequenas pedras que delimitavam as paredes da cabana, protegida por diversos penedos.

No interior da frágil cabana, encostada aos penhascos graníticos, havia uma lareira em torno da qual se encontravam muitas bolotas queimadas. As bolotas recolhidas nesta zona de torrefação e de moagem deste fruto silvestre foram datadas, pelo método do Carbono 14, de 2871-2325 antes de Cristo. No entanto, a antiguidade da utilização da bolota carbonizada não surpreendeu os arqueólogos. Já noutros locais da Beira Alta, ocupados pelo homem pré-histórico, se haviam encontrado indícios directos e indirectos do uso culinário da bolota, nomeadamente no imponente e emblemático povoado fortificado do Castelo Velho de Freixo de Numão (Foz Côa) datado do III – II milénio antes de Cristo.

Ainda nos faltam alguns dados sobre a utilização da bolota ao longo de toda a Pré-história. Mas sabemos que nos povoados pré-históricos havia áreas específicas de armazenamento de bolotas e de outros cereais. Por exemplo, no importante povoado pré-histórico de Pastoria, em Chaves, descobriram-se estruturas construídas em pedra para armazenamento de cereais (principalmente o trigo comum) e no Buraco da Pala de Mirandela, cujos vestígios de ocupação recuam ao III milénio a.C., escavaram-se silos de armazenamento contendo centenas de sementes de trigo, de fava e de bolota.

Avançando na História, vamos encontrar, nos povoados da Idade do Bronze, sobretudo na transição do II para o I milénio antes de Cristo, igualmente, restos de bolotas torradas no interior de cabanas, normalmente, junto de lareiras. Sabemos que em alguns povoados do Bronze Final da Beira Interior (entre 1200 e 800 antes de Cristo) as lareiras constituíam um elemento básico da habitação. Eram construídas com pequenos muros de pedras quer no interior quer no exterior das habitações. No importante povoado localizado em S. Romão (Seia) ocupado deste a Pré-História, foi escavada uma lareira que era também uma fossa (ou melhor, uma fossa-forno) datada do final da Idade do Bronze. Estava repleta de bolotas carbonizadas. Junto a esta lareira ou fossa-forno os arqueólogos identificaram uma zona de moagem, com diversos moinhos de vaivém em granito, e uma zona de armazenagem, esta identificada pela presença de um grande pote de cerâmica feito à mão. No próximo texto veremos a importância da bolota para os povos da Idade do Ferro, nomeadamente entre os Lusitanos e os seus vizinhos que não dispensavam este fruto silvestre.

Por: Manuel Sabino Perestrelo

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