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O boom da animação

o que há para ver

Devo confessar-vos, desde já, que sou um fanático do cinema de animação, e ainda sou do tempo em que os garotos (a maioria dos “fiéis”) esperavam religiosamente, ano sim, ano não, pela chegada natalícia do Disney animado da praxe. Em comparação, a inflação moderna de filmes do género, facilitada pelas novas tecnologias, faz com que as estreias do ano pareçam ocupar, segundo as regras antigas, uma vida inteira. Só este ano as crianças (e não só) tiveram à sua disposição, primeiro nas salas, e transitando muito rapidamente para os DVD (que o Natal é, antes de mais, negócio!), quinze (salvo erro ou omissão) produções novas, e não conto com os produtos híbridos, mistura de animação e personagens reais de que o filme que esta semana se estreia, “Artur e os Minimeus”, realizado por Luc Besson, é um exemplo.

Diga-se desde já, para abreviarmos, que este é uma completa desilusão (para quem pudesse ter ilusões em Luc Besson), pouco imaginativo, com um grafismo medíocre no que se refere aos “minimeus” (que parecem gnomos de jardim com movimentos mecânicos), e uma versão dobrada que deixa muito a desejar (apesar de tudo, sempre se aconselha a versão original, com as vozes de Madonna, Snoop Dog e David Bowie).

Despachado o Artur para o meio dos “minideles”, voltemos ao começo. É evidente que a quantidade não é sinónimo de qualidade. O problema é que os produtores (principalmente em Hollywood), querendo tirar o máximo rendimento da tecnologia de ponta, descuram um elemento fundamental que é a concepção da história, recorrendo à receita habitual: quando há um sucesso faz-se uma sequela. O número dois marcou presença este ano pelo menos em três filmes: “Bambi 2” (a Disney já fez o mesmo com várias outras das suas criações clássicas), “A Idade do Gelo 2” (dando um maior destaque ao esquilo “estrela”) e “Garfield 2” (com o humor que faltava ao primeiro).

O mercado ainda arranjou espaço para algumas produções não americanas, de mais uma tradicional aventura de Astérix, desta vez contra os Vikings, ao sempre notável trabalho “anime” de mestre japonês Mamoru Oshii em “A Cidade Assombrada 2”. Mas isto é outra loiça, não necessariamente para brincadeiras infantis, como o não eram também outras propostas curiosas, como “Terkel em Sarilhos” e “Capuchinho Vermelho – A Verdadeira História”, este último, uma tentativa falhada de revisão iconoclasta da conhecida história infantil.

Para o melhor e para o pior, a parte de leão coube aos Estados Unidos, destacando-se dois entre os vários filmes que nos ofereceram: “Carros”, exemplo definitivo de perfeição técnica, e “A Casa Fantasma”, o mais original e bem concebido filme de animação do ano, uma produção Spielberg-Zemeckis, dirigida por Gil Kenan. Segue-se a tradicional aventura infantil que foi “O Rapaz Formiga” (um garoto reduzido ao tamanho de formiga vai combater com os insectos, fórmula que Luc Besson foi buscar para “Artur e os Minimeus”), e alguns filmes que equilibram um razoável sentido de humor com a clássica antropomorfização dos animais: “Boog & Elliott Vão à Caça”, “Balbúrdia na Quinta” e, principalmente, “Pular a Cerca”, um dos desenhos animados mais divertidos e interessantes do ano.

O melhor, porém, coincidiu com a época festiva que atravessamos: “Happy Feet”, uma irresistível viagem musical ao mundo dos pinguins, com um pinguim-Fred Astaire, e aquele que é, para nós, o melhor e mais divertido filme de animação que 2006 nos ofereceu: “Por Água Abaixo”, que alia o humor irreverente dos estúdio Aardman à excelência técnica dos de Spielberg.

Manuel Cintra Ferreira

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