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O absurdo de Olga Roriz

Coreógrafa apresenta esta noite o espectáculo “Confidencial”

A repetição, a ordem e a lógica do quotidiano vão ser desafiadas hoje à noite no palco do Cine Teatro Avenida, em Castelo Branco, pela Companhia Olga Roriz. Em “Confidencial”, a coreógrafa, uma das mais consagradas no nosso país, leva o quotidiano a um extremo a partir da observação dos gestos banais e vulgares do dia-a-dia. O objectivo é explorar o absurdo, o vazio e as atitudes comportamentais através da repetição exagerada dos gestos e da multiplicação de objectos e imagens.

Adriana Queiroz, Catarina Câmara, Francisco Rosseau, Luís Rodrigues e Pedro Cal são os intérpretes de 17 cenas sobre o quotidiano, a sociedade, a solidão, o amor, o sexo ou simplesmente o vulgar com histórias ou experiências por que tenham passado. Três homens e duas mulheres a ler um livro, pendurados de cabeça para baixo em lençóis negros que pendem do tecto enquanto rodam sobre si mesmos, abre um espectáculo com mais de duas horas de duração. É assim que Olga Roriz inicia a sua visão do quotidiano. Quarenta bancos, outros tantos ramos de flores, sacos de lixos, malas, bonecas, chapéus, livros, candeeiros ou simplesmente a neve – vulgares no quotidiano de cada um – sucedem-se repetidamente em palco para completar as interpretações dos bailarinos, que se desdobram sozinhos ou em grupo durante o espectáculo que nasceu essencialmente da improvisação da coreógrafa e dos intérpretes. Uma das cenas mais marcantes desta produção intitula-se “Menina das Rosas” e é interpretada por Catarina Câmara, que entra em palco com rosas vermelhas presas no colo e nos joelhos que vai arrancando e lançando enquanto recorda os seus tempos de “coelhinha da Playboy”. A ideia é levar o espectador a sentir os tempos áureos de uma mulher já madura, saudosista do seu passado de “sex symbol”.

Surge depois o “Livro do Desassossego”, um contador de histórias que vai tirando marionetas de uma mala, mas também um casal que canta “Fascinação” e acaba aos estalos, um dançarino de óculos com um espanta-espíritos na boca, uma noiva soluçante que vai cantando enquanto corta corações vermelhos de papel, o monólogo de um bêbado no jardim, uma cena colectiva ao som de uma música ritmada que a autora denominou de “roleta russa”. A 13ª criação da companhia dirigida por Olga Roriz é a mais longa da sua história e mistura música electrónica com a clássica, passando pela étnica e pelo tango. Os cenários e adereços foram pensados por Pedro Cal e Olga Roriz, que também desenhou os figurinos. A companhia foi fundada em 1995 e tem sido desde então uma referência de qualidade profissional e artística no panorama nacional e internacional, com alguns espectáculos consagrados como “Não Destruam os Malmequeres”, “Os Olhos de Gulay Cabbar”, “Código MD8”, “Jump-up-and-kiss-me” e “Jardim de Inverno”.

Liliana Correia

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