Arquivo

Novas perspectivas para alunos em risco

Alunos e professores fazem balanço positivo do primeiro período do PIEF da Covilhã

Apesar de ser ainda «cedo», os professores responsáveis pela turma do Plano Integrado de Educação e Formação (PIEF) da Covilhã, que está a decorrer desde Abril na Escola Pêro da Covilhã, fazem já um balanço bastante positivo do primeiro período de ensino. «Estamos ainda numa fase de integração e adaptação a este tipo de ensino, mas há já um balanço muito positivo nesta prática diferente de ensino», confessa o director da turma do PIEF, António Pinto Pires, que acredita no «sucesso» dos onze jovens que frequentam esta forma “especial” de ensino.

Isto porque as turmas do PIEF são constituídas atendendo essencialmente às «necessidades de cada um». Cada jovem que integra esta turma tem um programa individual, pelo que podem ser admitidos a qualquer altura e receber o respectivo certificado assim que conseguirem atingir as competências. Jorge Antunes, presidente do conselho executivo da escola, está satisfeito por ter superado os objectivos inicialmente propostos. «No início disse que me daria por satisfeito se tivesse um êxito de 60 a 70 por cento, ou no mínimo de 50 por cento, por causa do público-alvo deste projecto. Penso que há neste segundo período uma maior frequência da parte dos alunos. Daí que os objectivos a atingir vão mais além», salienta. Além disso, esta turma PIEF, que abrange ainda jovens do concelho de Belmonte e algumas freguesias da Covilhã, «não cria o tipo de problemas causados por uma turma regular», desabafa. Criada essencialmente para combater o abandono escolar e o trabalho infantil, esta turma composta por jovens entre os 15 e 18 anos de idade está «motivada» com o currículo escolar proposto.

A prioridade para já é concluírem o segundo ciclo de ensino básico (o 5º e o 6º ano de escolaridade), mas há quem pretenda “voar mais alto” depois de ter deixado de estudar devido a «”acidentes de percurso”». É o caso de um jovem que tenciona «tirar o 9º ano e entrar mais tarde no curso de Engenharia Mecânica na universidade». Já uma outra colega de turma confessou a “O Interior” ter abandonado a escola porque «não lhe apetecia andar a estudar», uma vez que o currículo “normal” não era apetecível. Mas com este novo sistema, a jovem confessa ter «mudado de ideias» e pensa mesmo seguir Enfermagem no futuro.

O sistema do PIEF é mais motivante para os alunos

Para além das disciplinas curriculares (Português, Matemática, Inglês, Homem e Ambiente, área de projecto, Educação Física e TIC), os alunos do PIEF frequentarão no final do ano lectivo acções de formação no CILAN em informática e na área têxtil (tecelagem e tinturaria) e de calcetagem através da Câmara da Covilhã. «Oferecemos um leque variado para lhes despertarmos o interesse por alguma área», adianta a professora Susana Nunes. Trata-se de um sistema que, para esta responsável, é mais «motivante» para estes alunos. «O maior problema deles era a falta de assiduidade e até à data isso ainda não se verificou», constata. Uma proeza conseguida graças aos esforços da escola Pêro da Covilhã, que decidiu colocar dois professores a tempo inteiro para um «maior acompanhamento» dos alunos envolvidos. «Eles dão a maior parte das disciplinas. É um grupo restrito de docentes, o que é mais fácil para que os alunos tenham pontos de referência», explica Jorge Antunes, que mesmo assim encontra algumas dificuldades nesta turma. «Há um ou outro aluno um pouco mais difícil e que por vezes coloca em risco as aulas», refere, adiantando, no entanto, que a escola tem mecanismos próprios para resolver a situação. «São chamados à atenção e, nalguns casos, são privados de algumas regalias. Numa situação mais drástica, ficam sem o reforço alimentar», que é pago pela escola através dos subsídios para o efeito.

«Eles têm que perceber que isto é um esforço dos contribuintes. Os miúdos não gastam nem um cêntimo na escola. Não precisam», acrescenta o presidente do conselho executivo.

Apesar dos esforços para ter os 15 jovens inicialmente propostos, a equipa «não conseguiu convencer os miúdos ou mesmo os pais», lamenta Jorge Antunes, considerando que a solução para combater estas situações de risco passaria por cada escola oferecer currículos alternativos. «Estamos já a trabalhar nesse sentido, oferecendo uma alternativa na área das madeiras», revela. Para além da escola Pêro da Covilhã, o PIEF envolve ainda a Beira Serra (entidade gestora), Santa Casa da Misericórdia, Câmara da Covilhã, Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), Segurança Social, departamento de Psicologia da UBI, Centro de Saúde, CILAN e o ensino recorrente.

Abandono escolar continua a aumentar na Covilhã

Comissão de Protecção de Crianças e Jovens registou este ano 30 novos casos

A Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) da Covilhã registou este ano a presença de 30 novos casos de risco no concelho, para juntar aos 13 casos reabertos dos 45 processos instaurados no ano passado e aos 8 casos arquivados liminarmente. O absentismo/ abandono escolar continua a dominar a tabela dos casos de risco, muitos derivados também pela instabilidade familiar das crianças (na maioria entre os 9 e os 16 anos de idade). Uma situação que tem aumentado face ao desemprego e ao alcoolismo que afecta muitas famílias no concelho.

Liliana Correia

Sobre o autor

Leave a Reply