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No país do pontapé

Entrementes

Era uma vez um país… Ary dos Santos, quando assim escrevia, não se referia, é certo, ao país do pontapé. Esse é um outro que agora, mas não só de agora, nos é dado vivenciar quotidianamente.

Vem isto a propósito de um clima de “guerra verbal” atiçado por um incendiário militante e nada comedido.

Aqui chegados é de bom tom afirmar a minha condição de assumido benfiquista (“ninguém é perfeito…”, pensarão uns quantos). No entanto, não estão aqui em causa simpatias clubísticas. O que está verdadeiramente em causa são as atitudes de um dirigente de um grande clube que, ao que parece, se esquece que o é e veste, dia após dia, a pele do mais fervoroso e acéfalo adepto.

Para que nem sombra de dúvida reste, refiro-me ao senhor presidente do Sporting Clube de Portugal, o senhor Bruno de Carvalho.

Ouvindo-o ao longo de dias, semanas, meses, lendo-o post a post nas redes sociais, apenas podemos chegar a uma conclusão: o homem é um daqueles atiradores que aponta a tudo o que mexe. Com ou sem razão, esse é já outro assunto mas, que me conste, as funções que desempenha não lhe conferem o direito de ofender, de achincalhar, de apoucar os adversários fazendo deles bem mais que isso e tornando-os inimigos.

O senhor Bruno de Carvalho é, hoje, um cidadão que passou do anonimato à ribalta e que tem responsabilidades acrescidas no panorama do dirigismo desportivo. Com as atoardas que repetidamente tem proferido, que exemplo de dirigismo está ele a dar? Com as ofensas a esmo que imagem passa ele do desporto, sobretudo para os mais jovens? Que exemplo de civismo conseguirá ele transmitir?

Ao acirrar os ânimos desta maneira que pretende ele? Tornar ainda mais violentas as já de si quase militarizadas claques clubísticas?

Como se tal não chegasse, as polémicas que semanalmente se levantam levam televisões as mais diversas a encher horas e horas de programas ditos de debate. Mas, afinal que debate? Cada um a defender a sua dama e, depois, como diz o outro e utilizando uma expressão em voga no futebolês, “tudo ao molho e fé em Deus”.

Seria interessante comparar o tempo que se gasta neste tipo de programas com aquele que se despende com programas de índole cultural. Ah, mas estes últimos, dir-me-ão, não geram audiências e sem estas não há canal televisivo que sobreviva.

Pois, lá está, estamos no país do pontapé.

Depois admirem-se se, num destes dias, nos acertarem com um, ali onde as costas perdem o nome, e nos mandarem futebolar para outras bandas…

Por: Norberto Gonçalves

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