Entram a medo, mas saem com a certeza de que queriam ficar mais tempo. É assim com as crianças que participaram no “Hospital Faz de Conta”. A iniciativa decorreu entre 13 e 19 de abril, na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior e já vai na noba edição.
Por esses dias chegaram ao hospital improvisado cerca de 950 crianças «e tivemos de recusar algumas escolas porque não tínhamos capacidade para mais», lamenta a responsável pela iniciativa. «É muito importante começarmos desde cedo a educar as crianças para não terem medo de ir hospital e ao mesmo tempo educá-las para a saúde», considera Francisca Morais. Nesta atividade os participantes fazem um percurso “ida ao médico” e tomam o papel de pais de um boneco que está doente. No hospital improvisado encontram um consultório, sala de tratamentos, Raio-X, farmácia, um espaço de internamento e o bloco operatório. Preparados para enfrentar os medos, os mais pequenos vieram de escolas não apenas do concelho da Covilhã, mas de todo o distrito de Castelo Branco e algumas da Guarda.
Quando O INTERIOR visitou o “Hospital Faz de Conta” uma turma do infantário da Santa Casa da Misericórdia de Alpedrinha (Fundão), com crianças de 4 e 5 anos de idade, tentava fazer a reanimação de um boneco enquanto outros descobriam o interior da ambulância e, com algum entusiasmo, ouviam a sirene. Duas das crianças estavam visivelmente incomodadas com a atividade: «Tiveram recentemente em contexto hospitalar, o que as amedrontou, mas atividades como esta ajudam a desmistificar e a perceber que o hospital é bom e não é para os assustar», justificou a educada Ana Brás. De resto, a maioria destes visitantes estavam «bastantes entusiasmados e participativos». A docente revelou que alguns deles ainda têm medo das vacinas «mas veem esta atividade como uma brincadeira e isto ajuda-os a abrir horizontes».
Com menos medo estavam Duarte e Dinis, do jardim-de-infância dos Penedos Altos (Covilhã). «Está a ser muito divertido», dizia o primeiro, enquanto o colega confessava que estava «a adorar». Quase a terminar esta ida ao “Hospital Faz de Conta”, ambos admitiam que já não tinham «medo dos médicos» e estavam ansiosos pela experiência da ambulância. «Da outra vez foi muito fixe», recordou Duarte. Já Pedro era uma das crianças fascinadas com as atividades promovidas e com os senhores de «bata branca»: «Agora já não tenho medo de ir ao médico, até gosto de fazer operações», admitia. No futuro, o pequeno covilhanense também quer ser médico, «mas de cãezinhos», revelou. Por sua vez, Dinis quer ser jogador de futebol e sabe que, quando for preciso, «os médicos entram em campo para cuidar de mim».
Também Maria Pedro, depois de fazer uma operação a uma boneca, garantiu que «agora já não tenho medo dos médicos». Uns mais tímidos que outros, estes utentes de palmo e meio deixaram analisar os seus bonecos pelas futuras médicas Mélanie Rodrigues e Catarina Oliveira, para quem esta é «uma forma de termos mais familiarização com as crianças e para nós é também uma alegria». As estudantes acreditam que o objetivo da iniciativa foi conseguido, pois todos «saem daqui também entusiasmados e com menos medo da bata branca, é muito produtivo». No final, as crianças ficam com outra visão do hospital e Francisca Morais diz que é engraçado ver como algumas ainda se recordam das atividades do ano passado.
A aluna do segundo ano de Medicina considera que esta não é só «uma forma dos mais pequenos perderem o medo dos senhores de bata branca, mas para os futuros médicos há também uma oportunidade para trabalhamos a nossa comunicação com as crianças». O “Hospital do Faz de Conta” envolve cerca de 200 alunos de Medicina, Ciências Biomédicas, Ciências Farmacêuticas e Engenharia Informática, que participam de forma voluntária.
Ana Eugénia Inácio 
