Aristóteles afirmava que a política é a ciência que tem por objectivo a felicidade, havendo necessidade de introduzir-lhe ética, a tal que Cícero definia como moralis scientia. O estado tem por finalidade defender a virtude, embora a política seja distinta da moral pois esta defende o indivíduo, enquanto a outra defende o colectivo.
Stefan Zweig escreveu que o mais apaixonante de todos os jogos é o formidável jogo da política. O povo, na sua sábia sabedoria, afirma que a política é uma porquinha parida onde os recos mamam alternadamente. A inocência não faz parte deste vocabulário, nem de qualquer cardápio, pois todas as pretensas ambições não são acidentais, nem tão pouco hipócritas. São processos culturais e resultam de uma maneira muito própria de ver o mundo. Joseph de Maistre dizia que «cada povo tem o governo que merece» e o fundador do PPD, Francisco Sá Carneiro, ia bem mais longe afirmando que «a política sem risco é uma chatice. Sem ética é uma vergonha».
Dizer mal dos políticos é, sem sombra de dúvidas, uma forma de expressar o que nos vai na alma e onde a discussão, em tertúlia, gera unanimidade, tem êxito garantido, terminando na vulgar conversa da treta, sendo a conclusão também unânime. Tiro e queda. Todos farinha do mesmo saco, percebendo-se que todos eles, tentam vender, na sua feira de vaidades, a ilusão da exclusividade em (quase) todos os produtos, utilizando para tal verdades indiscutíveis e até as meias verdades dignas de um célebre Monsieur De La Palisse, tentando desmentir assim o investigador Joe Navarro quando este afirma que «os políticos são de longe os campeões do disparate e da mentira».
No último fim-de-semana estive atento ao congresso do PS. Percebi que o líder e candidato a primeiro-ministro, António Costa, tentou desde o início esvaziar o assunto do momento, caso Sócrates, pedindo a todos que separassem os sentimentos da ação política. Fez bem. No entanto e, independentemente de um bem elaborado discurso final, num piscar de olho à esquerda, que desagradou e muito a esta direita que nos explora e filosoficamente, cada dia que passa, se torna visivelmente mais mercantilista e mais estúpida, Costa, prometeu uma nova leitura do Tratado Orçamental, pediu maioria absoluta para governar, quer manter o poder nos Açores e fazer com que se inicie um novo ciclo político na Madeira, recordando que é possível e desejável termos um Presidente da República que exista, que constitucionalmente saiba quais são os seus deveres, direitos e poderes e deixe de ser, em definitivo, muleta negra de um qualquer governo.
Gostei do discurso de Costa. O homem está cheio de força e espero que quando tiver perfeita consciência do estado do país não venha para a praça pública prometer uma coisa e fazer depois outra. Isto para não ser considerado farinha do mesmo saco.
Os congressos são uma coisa. São dias de festa, de reencontro de amigos e camaradas, de discursos mais ou menos convergentes e inflamados, de aprovar moções e jogadas de bastidores para o arranjinho das listas aos órgãos diretivos, no entanto, com o caminhar do tempo, no dia-a-dia político e a evolução de todos os processos poderemos ser testemunhas de comportamentos divergentes por parte de pequenos/grandes socráticos, que poderão baralhar todo o esquema do unanimismo, quiçá enganoso, deste congresso.
Com o desenrolar do caso Sócrates poderemos vir a ser testemunhas de múltiplas leituras, inúmeras consequências e alguns socráticos menores, quais Antistenes, da exagerada escola cínica, dirigidos por aquele que fará o papel de Diogenes, não podemos esquecer que foi corrido das listas, mas mantém-se em funções na Europa, pode muito bem assumir a contestação à envergonhada unidade rosácea e, a direita, com toda a esperteza saloia que a caracteriza, conseguir dar a volta à história dos três piores anos em Portugal e virar o curso dos acontecimentos. Isso seria muito mau, mas pode acontecer. Bom, como atrás de tempo, tempo vem, a ver vamos…
Por: Albino Bárbara