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«Nem todos podem estar sentados a uma secretária»

Iª Feira de Emprego de Trancoso alertou para a necessidade dos jovens começarem a enveredar por áreas mais técnicas

«Temos um conjunto de profissões essencialmente técnicas muito procuradas e para as quais, neste momento, não temos profissionais disponíveis». O alerta foi deixado por Carlos Gonçalves e Paulo Velho, directores do Centros de Emprego da Guarda e Pinhel, respectivamente, na Iª Feira de Emprego de Trancoso, promovida pela Santa Casa da Misericórdia local na Escola Profissional da “vila de Bandarra” na última quinta-feira. Electricistas, mecânicos, canalizadores e serralheiros são algumas dessas profissões mais requisitadas no mercado de trabalho regional.

Actualmente, Carlos Gonçalves considera que tanto as Escolas Profissionais como os Centros de Formação Profissional disponibilizam técnicos qualificados para o mercado de trabalho que, «muitas das vezes», não consegue «absorver toda a gente», realça. Desta forma, os Centros de Emprego debatem-se com um número de desempregados «preocupante, mas não alarmante», tendo havido até uma «estagnação» do desemprego. No entanto, continuam a existir algumas ofertas de emprego para profissões específicas que «não conseguimos satisfazer», como carpinteiros, electricistas ou ajudantes de cozinha e empregados de mesa. Papel importante para «ajudar a satisfazer» estas e outras ofertas, como as da construção civil, gás e climatização, poderá ter a Escola Profissional de Trancoso (EPT). Nesse sentido, o director do Centro de Emprego da Guarda salienta que «nem todos podemos estar sentados a uma secretária, nem podemos ir para as mesmas áreas à espera de arranjar emprego», numa clara alusão à constante tendência de muitos jovens continuarem a enveredar por cursos que tradicionalmente têm poucas saídas profissionais.

Paulo Velho, director do Centro de Emprego de Pinhel, comunga da mesma opinião, considerando que o trabalho de orientação profissional dos alunos que acabam a escolaridade obrigatória deve ser cada vez mais «desenvolvido e aperfeiçoado». «Muitas vezes, os jovens têm vocação para certas áreas, mas não lhes é incutido ou despertado esse interesse, até porque muitas vezes não lhes é dada a conhecer claramente a profissão», conta. Tal como sucede na cidade mais alta, também em Pinhel há um «conjunto de profissões essencialmente técnicas muito procuradas» e para o qual não existem neste momento «profissionais disponíveis para exercer essas actividades», citando casos de electricistas, mecânicos, canalizadores, serralheiros ou técnicos de reparação de computadores. «Não conseguimos dar resposta às entidades empregadoras», lamenta, constatando, por outro lado, que «continua a haver um grande espaço de empregabilidade para quem aposte» numa dessas profissões. Paulo Velho acentua ainda que as entidades empregadoras são cada vez «mais exigentes» na procura de trabalhadores qualificados, uma lacuna que se tem verificado no distrito, já que «de certa forma, a mão-de-obra existente na nossa região não é qualificada». Daí que a obtenção de uma qualificação, através de uma EP ou de outra via alternativa ao ensino regular, seja «sempre bem-vinda ao tecido empresarial», sublinha.

Conhecer as oportunidades de trabalho

Ao todo 16 currículos foram entregues na Iª Feira de Emprego de Trancoso, a esmagadora maioria de antigos alunos da EPT. António Oliveira, presidente do Conselho de Administração da instituição, congratula-se com o facto dos alunos «não terem geralmente dificuldades em integrar-se no mercado de trabalho», ainda que tenham que «se deslocar para centros de maior dimensão», indica. «Temos grandes empresas nas áreas da electrónica e da mecânica da região de Viseu que nos dizem que os alunos podem ir para lá quando estiverem a terminar», garante, sublinhando serem estas áreas, onde os níveis de remuneração são «muito superiores» ao que hoje se paga a um administrativo em início de carreira, muito mais procuradas pelas empresas. No entanto, «continua a haver menos candidatos para esses ramos», porque os jovens optam «quase sempre pela secretária e pela caneta», apesar de terem «mais dificuldades em conseguir trabalho», constata. Outro aspecto «extremamente importante» é dos jovens poderem criar o seu auto-emprego em áreas como a electrónica, electrotecnia e mecânica. Júlio Sarmento, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Trancoso, garante que esta foi «a primeira de muitas Feiras de Emprego» a realizar nos próximos anos, de forma a permitir aos formandos saberem como funciona o mercado de trabalho e quais «as áreas onde existem oportunidades», adianta.

Ricardo Cordeiro

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