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Carlos Brito defende criação de unidades terapêuticas distritais

Centro de Alcoólicos Recuperados da Guarda comemorou 20 anos de existência

Com uma estrutura idêntica à dos Centros de Apoio a Toxicodependentes (CAT), o tratamento do problema do alcoolismo em Portugal seria «muito mais eficaz». Carlos Brito, presidente do Centro de Alcoólicos Recuperados da Guarda, não tem dúvidas que a criação de várias unidades terapêuticas distritais seria um passo decisivo para «mudar a vida» de muitas famílias. «Se houvesse na Guarda um serviço idêntico ao Centro de Alcoologia de Coimbra, acredito que teríamos maior sucesso na recuperação dos doentes e poderíamos ajudar mais rapidamente quem nos procura», disse, à margem da sessão comemorativa do 20º aniversário do centro guardense.

A cerimónia registou ainda a promulgação de um protocolo com a ARS do Centro, que garante seis mil euros anuais à instituição, bem como um donativo de mil euros do Centro Regional de Segurança Social e um cheque de 500 euros, entregue em mão a Carlos Brito por um alcoólico recuperado, «que está agora bem na vida». “Prendas” que o responsável agradeceu, não sem antes recordar que inicia todos os anos a actividade do centro com uma livrança em seu nome. «Apesar de sermos apoiados pela Segurança Social, a sub-região de Saúde e a Câmara da Guarda, as outras autarquias não nos respondem ou dão-nos 10 a 30 contos por ano. O que é pouco para uma instituição como a nossa, que vai duas a três vezes a Coimbra levar pacientes», explica, adiantando que só o internamento de três semanas de um utente custa cerca de 500 contos ao Estado. A iniciativa, promovida pela sub-Região de Saúde da Guarda, que quis enaltecer o trabalho desenvolvido ao longo de duas décadas pelo Centro de Alcoólicos Recuperados da Guarda, juntou algumas dezenas de alcoólicos recuperados e as suas famílias, tendo também marcado presença os dirigentes dos organismos de Aveiro, Cova da Beira, Pinhel e Viseu.

Mas muito tem ainda que ser feito. Segundo Carlos Brito, verifica-se actualmente que a idade média de quem está a recorrer ao centro está a baixar: «Ainda há quinze dias internei um jovem com 24 anos. O que está a acontecer é que o nossos jovens já não fazem aquela alcoolização que demorava 20 a 25 anos a fazer, porque o vinho era metabolizado através do esforço físico», explica, acrescentando que a juventude prefere as «verdadeiras “bombas”» que se fabricam nas discotecas e nos bares. «Parecendo que não, esses “shots” vão fazer uma intoxicação gravíssima e aquilo que se fazia em 25 anos a beber vinho faz-se em cinco anos a beber “shots”», avisa, receando estarmos perante uma «geração de risco». Outra preocupação é o alcoolismo feminino, devido em parte ao facto da mulher não ter no estômago uma enzima igual à do homem que metaboliza o álcool. «Por isso fica doente muito mais rapidamente e já estão a aparecer muitas cirroses na parte feminina», constata Carlos Brito, para quem o álcool continua a ser uma droga autorizada pelos nossos governantes, «a droga dos políticos», como prefere dizer, pois a bebida «é tolerada e não ilícita». Garante, de resto, que pela sua mão já terão passado cerca de 1.600 pessoas, com uma taxa de sucesso de 80 por cento.

Um sucesso reconhecido por Emília Pina, directora da sub-Região de Saúde e médica de família, para quem o Centro de Alcoólicos Recuperados da Guarda foi de uma «grande ajuda» no tratamento de uma doença que «ainda é difícil tratar». Já Augusto Pinto, responsável pelo Centro de Alcoologia de Coimbra, realçou o facto deste trabalho ter contribuído para que «quase 100 por cento» dos técnicos de saúde do distrito da Guarda tenham formação em alcoologia, enquanto Fernando Andrade, presidente da ARS do Centro, destacou a importância «crucial» da prevenção nesta matéria.

Luis Martins

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