Arquivo

«Não se fazem amigos a escrever crítica literária»

Pedro Mexia esteve na Guarda na passada quinta-feira para participar na IV Festa do Livro

A meteorologia não ajudou. Ainda assim, e apesar do frio que se fez sentir na noite da última quinta-feira, algumas dezenas de curiosos passaram pela Feira do Livro, no Jardim José de Lemos, para ver e ouvir Pedro Mexia. Foi o regresso do autor, cinco anos depois de ter participado no evento, promovido pel’O INTERIOR.

Durante aproximadamente uma hora, foram passadas em revista várias facetas de Pedro Mexia: o “blogger”, o escritor, o crítico literário e o cronista. «Ser crítico e escritor só é estranho no contexto da pequenez portuguesa», afirmou, após interpelação de Luís Baptista-Martins. E acrescentou: «Não se fazem amigos a escrever crítica literária». Contudo, uma boa parte da conversa versou sobre o panorama literário contemporâneo português. Pedro Mexia considerou haver, indiscutivelmente, uma nova geração «que se destaca». Só que o percurso desses autores é ainda muito recente. «E, por outro lado, há um conjunto de escritores muito importantes que desapareceram na última década ou que têm uma idade muito avançada e que marcaram a literatura portuguesa», acrescentou. Citou, a este respeito, Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Mário Cesariny ou Eugénio de Andrade. Por outro lado, Agustina Bessa-Luís e António Ramos Rosa são exemplos «de uma geração que está no fim e com a qual não é justo comparar quem veio depois», defendeu.

Sem reservas, Pedro Mexia destacou Gonçalo M. Tavares como «o melhor escritor português» da sua geração. «Tem uma produção imparável e uma formação intelectual e tipo de escrita que são estranhos aos modelos portugueses. Creio que a literatura portuguesa nem nos seus melhores momentos é uma literatura de ideias. Há a excepção de Fernando Pessoa, mas não está nos nossos genes problematizar a existência. E o Gonçalo faz isso. Autores como ele são importantes para contrariar o nosso sentimentalismo natural», justificou. Para o autor, cabe à literatura ser «um bocadinho diferente da vida real, até porque a literatura sentimental raramente é boa literatura», considerou, acrescentando que «a literatura mais interessante é um prazer trabalhoso. Importa haver trabalho, nomeadamente sobre a linguagem. Um grande livro dá trabalho». Quanto à chamada “literatura light”, foi taxativo: «Um dos muitos equívocos desse tipo de literatura, para além de se achar que, através dela, as pessoas vão passar a ler Dostoievski, é pensar-se que, ao fazer com que os livros se pareçam com a vida, se continua a escrever literatura», sentenciou.

A terminar esta visita a Feira do Livro, Pedro Mexia leu duas crónicas. Um tipo de escrita «diferente», onde procura experimentar «vários registos e vários humores, entre os quais o próprio sentido de humor». Primeiro, leu “Torto”, que alude à sua passagem pela Faculdade de Direito. Depois “A pátria em cuecas”, sobre um dos momentos «mais felizes» do seu percurso: a dispensa da tropa. O caso da crítica de Vasco Pulido Valente no “Expresso” ao romance “Rio das Flores”, de Miguel Sousa Tavares, – «um exemplo de crítica pessoal» – foi outro dos assuntos abordados pelo escritor nesta sessão, para além do Plano Nacional de Leitura.

Rosa Ramos

Sobre o autor

Leave a Reply