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Não percebo mas discordo

Observatório de Ornitorrincos

Não sei se alguém já deu conta, mas um Zapatero é um tipo que se dedica a fazer zapatos e – porque não? – Zapatas. Um fazedor de guerrilheiros anarquistas, portanto. Na Europa (em francês, “notres putains”), os povos tornaram-se zapatistas. Agora, sempre que há um governo, são contra. Os espanhóis viram em Zapatero um fazedor de Zapatas e empurraram-no para os cornos do touro – actividade muito apreciada no país vizinho, juntamente com atirar tomates maduros à cara uns dos outros, e tudo isto sem sair do Parlamento. Em França (“La Frronce” em francês, “Those fucking losers” em inglês) o povo mandou os partidos do governo pisar urtigas com o rabo numas eleições parecidas com as autárquicas, mas diferentes porque lá há uma volta de aquecimento antes daquela que realmente conta – no fundo, são como aquelas corridas de ciclismo em pista, em que os ciclistas andam ali voltas e voltas a olhar um para o outro (com algum excesso de carga homossexual, convenhamos) e depois só contam os últimos 100 metros.

A minha tese, consolidada após dois iogurtes naturais, uma embalagem de tiras de milho e a leitura do editorial do Expresso, é a seguinte: acabe-se imediatamente com os rolos de papel higiénico de folha única. (A esta altura o leitor pode pensar que esta tese não tem rigorosamente nada a ver com o parágrafo anterior e tem toda a razão. No entanto, o facto do leitor ter razão nessa observação não implica que o autor deste texto não possa expressar livremente a sua opinião acerca dos assuntos que lhe pareçam mais importantes, incluindo a pouca espessura do papel higiénico e do pensamento de Bernardino Soares. Foi o que fiz. Tenho também outra tese sobre gaivotas bissexuais, mas ficará talvez para uma altura do ano em que o Presidente da República não ande por aí a visitar ninhos de cegonha.)

No que diz respeito aos governos – embora, por mim, nada lhes diria respeito – sustento que talvez não fosse má ideia – embora qualquer coisa que diga respeito aos governos é sempre má ideia – instaurar o sistema de rotação dos partidos no governo – parecido com o actual, mas sem eleições. (Já agora, se eu mandasse alguma coisa, proibiria os autores de artigos de opinião de interromperem constantemente as suas análises com hífenes e parêntesis para escreverem pequenos “apontamentos” idiotas.) Se o eleitorado europeu seguir esta regra de votar constantemente na oposição, poupar-se-ia imenso tempo, dinheiro e alguma vergonha se, em vez de eleições, cada governo abandonasse as suas funções pelo seu próprio pé ao fim de quatro anos e desse lugar a outro. Ou melhor ainda, de quatro em quatro meses. Assim se garantiria de forma ainda mais eficaz a total impossibilidade de reformar fosse o que fosse. É sabido que os povos não gostam muito de mudanças – e muito menos de ajudar nas mudanças de casa dos outros.

EU VI UM ORNITORRINCO

Manuela Moura Guedes

Tem um faro especial para a desgraça e um olhar telescópico para a miséria. Tem, no entanto, visão quase nula para os lados. Aparelho auditivo anulado, o que a torna praticamente surda quando alguém fala moderadamente baixo ao seu lado. Em contrapartida, o seu chilrear ouve-se a quilómetros de distância. Sentido de solidariedade excessivo, transporta às costas as dores e as mágoas dos que considera desprotegidos. Não está em extinção. Pelo contrário.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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