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Na primeira pessoa

Crónica Política

O meu último artigo de opinião cumpriu bem o seu papel, incomodou muita gente! Até a redação deste jornal se deu ao trabalho de anotar que o autor tinha sido autarca e líder da distrital do PSD. Pelos vistos, incomodou também o jovem David Santiago, ou quem lhe encomendou a crónica, pois que, pela segunda vez, sou criticado nas páginas deste jornal e por um colega cronista. Já deve ser preconceito ou complexo!

Conheço o David Santiago e reconheço nele qualidades de inteligência e de capacidade de pensar e de escrever. Sendo jovem, tem à frente um futuro promissor, mas no tempo próprio compreenderá que para afirmar as suas opiniões não precisa de substituir a palavra pelo palavrão, nem a crítica pelo insulto a quem opina, deixando a ética e o respeito ao sabor da conveniência. Era legítimo, que discordando, defendesse argumentando o seu ponto de vista, mas tudo ao invés, resolveu ir pelo caminho mais fácil, o do ataque pessoal. Desta vez, decidiu, entre outras coisas, chamar-me demagogo e acusar-me de ter dedicado a vida apenas ao exercício da política.

Que fique claro, que a crítica não me incomoda, estou habituado e recordo-me, sempre, de um velho provérbio chinês que lembra que os rapazolas só atiram pedras às árvores que têm fruto. Confesso que a crítica faz-me sentir vivo, é sinal de que importo e incomodo! Por isso, prefiro a crítica às homenagens que antecipam o epitáfio da vida. Voltando ao tema, é óbvio que de tanto se sentirem incomodados, não compreenderam o seu sentido. Não é meu hábito falar de mim. Mas sinto-me obrigado a abrir uma exceção. Sempre fez parte dos meus princípios éticos a recomendação de viver a vida com modéstia, aceitando os erros e os acertos com a naturalidade de quem pensa e quem faz.

Exerci durante 28 anos as funções de presidente da Câmara de Trancoso, tendo disputado e ganho todas as sete eleições. No final do último mandato, para além da vasta obra pública realizada, Trancoso verificava dos indicadores macro mais importantes: o segundo melhor indicador demográfico do distrito e a mais baixa taxa de desemprego. O município detinha ainda capacidade de endividamento, pois a dívida, certificada pelo Revisor Oficial de Contas, estava abaixo do limite legal no curto e médio prazo.

Porém, na minha vida social, não me limitei ao exercício da política, dei exemplo de cidadania ao trazer novos negócios para Trancoso e para a Guarda, onde sou sócio de empresas que, com sacrifício pessoal e a dificuldade própria de quem investe no interior, ajudei a construir e que empregam no seu conjunto perto de trinta trabalhadores. Sempre procurei viver a vida mais pelo exemplo do que pela palavra. E não quero ser mais exigente com os outros do que com o meu próprio exemplo de cidadão! Considero até que um dos males da nossa sociedade é o défice de exigência e de exemplos de vida.

Temos muita gente a falar, escrever e criticar e poucos a dar exemplos de vida. Sabem sempre muito, mas não se lhes conhece obra que tenham feito. Por isso, posso sempre afirmar, de forma clara, sobretudo para aqueles que, por inveja, preconceito, frustração ou complexo, gostam de falar de mim, que se seguissem todos o meu exemplo de vida, teríamos um pais sem problemas de natalidade, competitivo e de pleno emprego! Tudo o resto, pouco importa, são expressão da nossa triste circunstância.

Por: Júlio Sarmento

*Antigo presidente da Câmara de Trancoso e ex-líder da Distrital da Guarda do PSD

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