Arquivo

Muita castanha para pouca procura

Se em Trancoso e Videmonte o fruto abunda, em Famalicão da Serra a produção diminuiu porque os castanheiros «estão a morrer»

Entrados no outono a chuva regressa, o frio aperta e a castanha é o fruto de época que mais apetece. O distrito da Guarda tem várias localidades que se destacam pela produção de castanha, mas este ano a situação não é famosa.

Em relação ao ano passado «há mais castanha, mas a procura diminuiu», lamenta o presidente da Câmara de Trancoso, que espera que a partir da próxima semana «o escoamento seja melhor». Amílcar Salvador não tem dúvidas que a qualidade da castanha é «muito superior à do ano passado» e por isso acredita que os produtores ainda vão recuperar, no entanto «o preço baixou relativamente ao ano transato». Trancoso representa cinco por cento da produção nacional de castanha, rendendo aos produtores cerca de três milhões de euros por ano. Como já é habitual, a cidade prepara-se para receber mais uma Feira da Castanha e é esta a «grande aposta» da autarquia para divulgar e comercializar este produto endógeno.

A vespa do castanheiro alarmou este ano alguns produtores do concelho, que viram as suas árvores afetadas. «Assim que o parasita foi detetado, foram logo tomadas medidas, como a largada de parasitoides», tendo a situação sido resolvida, garante o autarca. Também em Videmonte, aldeia do concelho da Guarda, é maior a oferta que a procura. «Castanha há bastante, mas o escoamento é franco», reconhece o presidente da Junta de Freguesia. Este ano a castanha caiu mais cedo e até ao início de novembro não costuma haver muita procura. Quanto à qualidade, Afonso Proença considera que é «muito boa, melhor que a do ano passado, pois não é tão bichosa e é mais grossa».

No entanto, o preço vai descer e, por isso, «não é benéfico para o agricultor». A “martainha”, uma das qualidades de castanha mais cara, estava inicialmente a ser vendida a 1,5 euros o quilo, «nas outras qualidades o quilo custavam um euro e agora está a 80 cêntimos», lamenta o autarca de Videmonte. Em Famalicão da Serra, outra aldeia do concelho da Guarda onde a produção de castanha tem alguma importância, o cenário também não é o melhor e aqui o problema não está na falta de procura para a compra da castanha. A principal dificuldade é que «os castanheiros estão a morrer», queixa-se o autarca da freguesia. Honorato Esteves explica que a situação se deve à «falta de cuidado dos proprietários com os soitos, não são tratados e ficam vulneráveis a doenças». Para o presidente da junta, «falta gente para cuidar dos soitos, as práticas culturais também são desajustadas e falta sensibilidade aos proprietários». Em consequência, ao longo dos anos tem-se verificado «uma quebra» da produção.

Continua a produzir-se castanha de «qualidade mediana, mas já não o suficiente para vender, apenas para consumo próprio». Ainda assim a tradição mantém-se e este ano irá realizar-se em Famalicão da Serra, no dia 14 de novembro, mais uma edição da Festa da Castanha e da Jeropiga, onde nenhum dos dois produtos tradicionais da época irá faltar.

Ana Eugénia Inácio Qualidade da castanha da região melhorou em relação ao ano passado

Sobre o autor

Leave a Reply