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Moreira de Rei à espera dos apoios que nunca mais chegam

População afetada pelo grave incêndio do ano passado não recebeu qualquer tipo de ajuda estatal

«Com 80 anos feitos nunca me lembra de ter visto um incêndio destes». O desabafo pertence a Maria de Lurdes Pinto, habitante de Moreira de Rei que o ano passado viu as chamas chegarem bem perto da sua residência. Um ano depois ainda são bem visíveis os estragos provocados pelo grave incêndio florestal que deflagrou naquela freguesia do concelho de Trancoso e que consumiu 966 hectares. Na altura foi criada uma comissão interministerial para avaliar os pedidos de ajuda dos municípios ao Governo na sequência dos incêndios, mas o que é certo é que os habitantes afetados não receberam ainda qualquer tipo de apoio e já não acreditam que isso possa ocorrer.

O que valeu a Maria de Lurdes Pinto a 11 de agosto do ano passado foi a ajuda da filha e do genro, residentes na Guarda, mas que naquela altura passavam férias em Moreira de Rei. A idosa recorda que «fartámo-nos aqui de trabalhar para o fogo não chegar cá acima», apontando para o local onde as chamas terão chegado a cerca de 50 metros da sua habitação. O incêndio provocou-lhe estragos em oliveiras que ficaram «chamuscadas», num pinhal que «ardeu» e numa nogueira que ficou «toda queimada». Questionada sobre os apoios que foram prometidos, a resposta é pronta: «Eu não recebi nada e creio que ninguém daqui tenha recebido. Prometer sabem eles mas cumprir é mais difícil», constata Maria de Lurdes Pinto. O incêndio terá começado por volta do meio-dia e prolongou-se até à madrugada do dia seguinte, pelo que «foi uma noite sem dormir», uma vez que «ninguém conseguia dormir com o fogo aqui tão perto», garante o seu genro Carlos Sousa, ao que a sua esposa Fernanda corroborou que se depararam com um «cenário dantesco, um sufoco».

Por sua vez, Palmira Varelas viu arder mais de mil pinheiros, 600 videiras, 50 oliveiras, cerejeiras e macieiras, que provocaram prejuízos que não consegue quantificar mas, tal como a sua vizinha, também não recebeu qualquer tipo de ajuda e «até entregámos em Trancoso uma relação com o que tínhamos perdido com o incêndio mas não ajudaram nada». Esta habitante de 79 anos relata que é «uma aflição vermo-nos de um momento para o outro sem nada» e que foi «horrível ver isto tudo a arder». Palmira Varelas confessa que sentiu «medo» e lembra-se de ter dormitado numas pedras juntamente com outros vizinhos que queriam evitar que as chamas chegassem às suas habitações. A habitante acrescenta ainda que «o que vale é que estavam cá muitos emigrantes nessa altura que também ajudaram no combate», realça.

Ricardo Cordeiro As vizinhas Maria de Lurdes Pinto e Palmira Varelas não ganharam para o susto com o fogo do ano passado

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